segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Todo dia

Tenho impressa em mim a cruel e amarga convicção de que a vida de todos ao meu redor seria melhor sem mim. Essa constatação me corta o coração como uma espada afiada de aço frio e me enrijece a alma. Não há razão de ser, de permanecer. 

E, de repente, as coisas mudam. O céu se enche de uma certa cor, a vida parece adquirir certo brilho e eu até mesmo começo a sorrir um pouco. Mas logo sou jogado novamente às cinzas, onde todo e qualquer aspecto da existência é triste e sem graça. 

E todo os dias é a mesma coisa: me sinto grato e feliz por estar vivo e, minutos depois, amaldiçoo a minha própria existência como a mais desgraçada das vidas por falta de um objetivo, de uma razão de ser, de uma razão para viver. Duas, três vezes. Vou do sorriso às lagrimas de uma hora a outra. 

E todos os dias é a mesma coisa, levantar movido pelos objetivos mais tolos, tornar a dormir na esperança de aproveitar as mais parcas experiências de gozo, viver um dia de cada vez sem, no entanto, ter uma razão real que me faça querer viver cada dia no limite, afinal, cada dia é só mais uma tortura infindável entre pensamentos felizes e tristes que vem e vão a todo momento. 

Vejo nos outros o sorriso, o olhar, parecem que, ou não estão conscientes da entropia que os rodeia ou realmente possuem uma razão para viver, e vejo que, no meu lugar, uma pessoa sem razão para viver, de fato não contribui com nada, por isso a cruel, amarga e esmagadora convicção de que a vida de todos ao meu redor seria melhor sem mim. E todos os dias, a cada dia, essa convicção se torna mais e mais profunda, marcada a ferro e fogo no meu peito e na minha alma. 

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