quinta-feira, 1 de agosto de 2019

O chamado da beleza

Tenho pensado num perigo que, aos poucos, se aproxima de mim. Um perigo que está em me abrir demais, em me expressar demais, em ser e sentir com intensidade demais. Há um perigo, um preço a se pagar por ser assim. Claro, o salário do pecado é a morte, e a loucura é a paga devida pelos meus desvarios, mas não posso arriscar assim. 

Acontece que a beleza me chama. A beleza intocada, daquele fonte lacrada num jardim fechado. Ela chama e minha alma por ela clama. Sou um homem do belo e a beleza tem, sobre mim, seu controle. Ela me hipnotiza e me priva de toda racionalidade. A beleza me embriaga, me seduz com seu tom de bronze, com seus músculos torneados, com seu sorriso tímido escondido atrás de sua verdadeira personalidade. A beleza encanta com seu olhar perdido, de quem ainda não sabe o que quer. A beleza seduz, com sua força majestosa. A beleza é o Apolo, o senhor do sol que, com sua carruagem penetra o mundo com sua luz. Se voar perto demais dele, vai se queimar. 

Assim é o risco que corro, de me queimar por voar perto demais do sol. Mas o que fazer, se o sol me atra magneticamente para si? Como fugir da luz do sol que aquece meu coração enrijecido pelo ar frio de meu passado? Não há como resistir, mas é preciso, do contrário minhas asas derreterão e serei lançado, mais uma vez, contra o chão frio do horror. Devo ter medo do amor? Depois de tantos horrores nas mãos da paixão eu devo dizer que o deus do amor é tão assustador quanto o deus da guerra, e quanto mais o será ao lado do deus que a todo mundo abrasa com seu calor?

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