terça-feira, 20 de agosto de 2019

Unilateralmente

Preso numa vida unilateral, uma vida de doação onde me entrego muito mais do que recebo. Uma doação generosa, é verdade, mas também uma doação parasitária, que me suga sempre mais e mais, até não sobrar nada. Exigem de mim compreensão, firmeza, alegria. Exigem que dê o máximo de mim. Mas eu termino sempre sozinho, sempre em busca de algo superior, e ninguém entende essa busca, ninguém entende esse meu desejo, que surge no âmago do meu coração. Todos riem-se de mim. Todos riem do meu sonho de conhecer, de me deixar levar pelo belo, bom e justo. Eu não sou mais do que uma piada para os outros por buscar a verdade. 

Mas que há de bom em estar ajustado numa sociedade onde todos já se esqueceram do que realmente importa? Perderam completamente o senso de importância e, com isso, perderam-se a si mesmos no caminho. Não passam de vagantes, tão perdidos quanto eu mas que, ao contrário de mim, sequer sabem que buscam alguma coisa. 

Essa busca pela Verdade para preencher o vazio, aquela imperfeição fundamental, é o que move o homem em sua existência. É a admiração de que falava Aristóteles, que é capaz de fazer a alma humana desejar conhecer. E é essa admiração que faz o homem desejar que ele deve encontrar no outro e, dessa maneira, encontrar pessoas que queiram e rejeitem as mesmas coisas.

Assim deve ser. 

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