sábado, 3 de agosto de 2019

Refúgios e lugares

Tomado de súbito pelo medo, como um animalzinho assustado pela novidade da movimentação ao meu redor. Novas e numerosas vozes, barulhos de utensílios culinários, conversas desconexas, risadaria, alfinetadas de família... Tudo isso me causa medo. Medo do barulho, da bagunça, do caos que ameaça o singelo e delicado equilíbrio que há entre as coisas ao meu redor. 

Busco refúgio, em meu próprio quarto escuro, em meu próprio coração. Talvez aqui possa conseguir o silêncio que me dê a segurança de estar longe de toda aquela confusão.

A receita de gelatina não foi suficiente. O bolo ficou lindo porém muito grande, as bebidas ainda não estão geladas, a decoração ainda nem começou a ser feita. E eu nada posso fazer além de observar, catatônico, tudo o que fazem. Estou paralisado ante todo esse movimento, estou em pânico vendo tudo o que está sendo feito e sem poder contribuir, porque meu medo do outro me impede. 

Mas, ao mesmo tempo em que sinto medo do outro, sinto a necessidade de estar com o outro, para suprir esse vazio esmagador que há no meu peito. Mas, ao buscar o outro, a presença dele me sufoca, me agride, me oprime de tal maneira a ponto de me fazer desejar novamente o silêncio da solidão, continuando então com esse ciclo interminável, dessa dicotomia entre estar presente, entre ser parte de algo, e estar longe não sendo partícipe de nada, não tenho relevância num plano social imediato e nem num plano superior. 

É complicado, olhar para dentro de si mesmo e não entender qual seu papel, qual sua missão. É complicado realizar coisas e mais coisas sem com isso enxergar um objetivo maior,  algo que transcenda a experiência imediata, algo que não seja para hoje ou amanhã, mas que se marque na eternidade. É complicado, olhar a multidão em polvorosa, em sua correria, e não saber qual meu lugar diante de tantas posições possíveis e mais, não saber qual meu lugar diante de mim mesmo e de minha alma individual, aquela que se apresentará diante de Deus gemendo prostrado pelo peso de meus pecados. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário