quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Recordare

Recordar é viver. 

Acho que foi justamente por isso que eu busquei esquecer aquele dia. Busquei fingir que não aconteceram aquelas horas de terror. Não queria, de maneira alguma, reviver aquela manhã de pânico onde, não conseguindo controlar meus pensamentos permiti que eles me fizessem cativo, onde transbordei em lágrimas e dor, onde meu coração quase explodiu em desespero. Não queria, não quero, reviver aquele medo.

Mas aconteceu. E não posso fingir que, naquele dia, fui esmagado por um céu cinza, que fui levado ao último estágio do horror, que, mesmo após ser medicado e dormir metade do dia, ainda me sentia derrotado, sem ânimo e nenhuma energia para dar um passo sequer. Não conseguia falar, senão que respondia a todos com gemidos inefáveis, nem mesmo eu entendia o que queria dizer. Só queria, na verdade, deixar de existir. 

O céu cinza continua pesando sobre mim, neste exato momento eu o observo pelas grades da minha janela. Eu me sinto preso, por elas, aqui. Me sinto preso nesse quarto que, de maneira convidativa parece me chamar ao descanso, mas eu sempre descanso e nunca deixo de estar cansado. É como se o cansaço tivesse se impregnado nos meus ossos até o tutano. 

A lembrança daquele dia me persegue como uma memória distante, mas ele está bem ali, me espreitando, rondando com seus tentáculos gelados, esperando o momento certo de me matar. É assim que me sinto. 

Tenho buscado fugir do que me deixou assim. Fugir de ver que as pessoas ao meu redor querem se livrar de mim. Fugir de perceber que o meu mundo está desmoronando e que eu nada posso fazer para impedir. Fugir de aceitar que, na verdade, o meu fim está próximo. 

Se todos se forem, o que será de mim?

Eu não entendo, qual o significado de tudo isso? Qual a razão para delimitar meu ser nos laços e nas diferenças entre eu e os outros se, no final, todos me deixarão sozinho? 

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