quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Contra o meu peito


A luz da lua entrou delicadamente sobre as fretas da janela de meu quarto e eu ergui os olhos para o céu. Pude sentir algumas pequenas gotinhas de água beijarem o meu rosto. Aquela lua brilhante me fez lembrar do seu olhar e eu pensei que, se você aparecesse na minha frente agora, eu ficaria feliz em ir até o dia clarear... Não sei, mas se você estivesse aqui, eu ficaria por horas e horas, falando sobre qualquer coisa, ou cantarolando alguma música, quem sabe simplesmente deslizando meus dedos pelo seu corpo, explorando suas linhas, cada canto, até conhecer cada centímetro de você... 

Infelizmente parece que a luz da lua não traz mais do que algumas lembranças, despertando desejos e apetites que eu preferia não sentir longe de você. O barulhinho delicado da chuva no telhado do vizinho e o efeito do Lexotan no meu organismo são um convite ao sono profundo, mas antes do sono sempre me vêm a mente aquelas imagens, aquelas sensações... E a parte mais estranha disso é que todas essas coisas tem a sua imagem, o seu cheiro, o seu olhar, o seu toque... Tudo que eu penso, é em você. 

Enquanto a chuva cai o saxofone toca, com uma delicadeza que reflete bem os meus sentimentos. É um lamento. Ele também chora, como em meu coração me derramo em desejo ardente. Para uma noite como essa tudo o que eu queria era você aqui comigo, me envolvendo com seus braços fortes e seu hálito em meu pescoço. Dizendo que me ama, dizendo que ficará comigo pra sempre... 

Eu aperto o seu braço contra meu peito. Posso ouvir o som da sua respiração, e as batidas de nossos corações entraram no mesmo compasso. No meio de tanta gente eu consegui encontrar você, notar seu sorriso tímido e seu jeito simples. E eu que achava que nunca mais iria me apaixonar me vejo aqui, deitado pensando em você. Mesmo com tudo dando errado para mim, parece que, se fosse com você, tudo estaria certo. Por isso eu peço: por isso não vá embora, por isso não me deixe nunca mais!

Sei bem que, ao olhar no fundo dos meus olhos você encontra um abismo. Esse abismo assusta a todos, e a mim também. Mas eu peço que não se perca nesse meu infinito particular. Meu infinito é feito de miríades de constelações, de mistérios, de auroras boreais e tempestades impetuosas. Mas é meu infinito e, se souber ver da maneira certa, tenho certeza que vai gostar da profusão de cores que há em mim. 

Essas cores, essa profusão, é a parte mais óbvia de mim que, no entanto, ninguém parece observar. É o lado que mostro quando me excito agitando a batuta na frente da televisão regendo uma orquestra imaginária até me derramar em suor e lágrimas. É o que mostro quando me reviro na cama ouvindo uma cantata ou ouverture, me imaginando naquela sala de concerto de décadas atrás, experimentando pela primeira vez essas obras fantásticas. São as cores que explodem em meus olhos quando olho pela janela do meu quarto e vejo a chuva caindo sobre o teto do vizinho, e penso em como seria se você visse essa paisagem comigo. Você a acharia bonita? E a paisagem de meu coração, ela te agrada ou te assusta, te atrai ou te faz sentir-se perdido ao entrar em meu infinito particular? 

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