quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

De sua atenção


Cá estou eu de novo, falando com você, buscando sua atenção, ou as migalhas que me dá quando viu atrás de você. Mais uma vez caindo no mesmo pecado. O pecado que é gostar de você. 

Não um pecado por ser outro homem, não, nada tão simplório assim. Um pecado por saber que você nunca olhará para mim, por saber que não passo de uma piada fugaz nos seus lábios, um aceno na porta da igreja, um contato a mais na agenda, com quem nunca conversa. 

E mais uma vez eu decidi insistir, sob os conselhos suspeitos do álcool em minha mente. Apenas para receber em troca o seu silêncio, mais uma vez. Não sou importante o bastante para merecer sua atenção, quem dirá seu coração. 

Com um sorriso macabro no rosto eu me dou conta do que fiz. Desenterrei algo que há muito havia sepultado em mim. Aquela nossa foto de anos atrás, tão diferentes e tão iguais. Encontrei seu número que há muito deveria ter apagado da meus contatos e de meu coração. Parece que nada mudou. Embora estejamos em posições completamente diferentes agora, ainda somos os mesmos, igualmente distantes. E eu igualmente incapaz de alcançar seu coração, tão distante de mim quanto a Terra das estrelas de galáxias vizinhas. 

Por qual razão então decidi falar com você? Algum instinto masoquista que eu ainda não diagnostiquei e justamente por isso não trato, algo em mim que me move sempre em direção as pessoas que me desprezam, que pisam em mim, como se não houvesse no meu ser nem uma gota sequer de amor próprio.

Amor próprio... Ainda não sei o que isso significa. Se o soubesse nunca mais olharia em seus olhos. Se o soubesse nunca mais pensaria em você antes de dormir, ou quando estou bêbado, no momento mais sincero de minha alma. 

Parece que é sempre assim, toda vez que eu pareço esquecer de alguém eu faço questão de me lembrar. Faço questão de procurar, faço questão de sofrer uma vez mais, para marcar mais profundamente na minha alma que faço parte daquela estirpe de condenados à cem anos de solidão que não terão uma chance sequer sobre a terra. 

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