sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Névoa matutina


Parece que há algum tipo de força no universo, queiram chamá-la de destino, de acaso, de deus, de tudo, não importa. Há algo que brinca com nossas vidas, como marionetes nas mãos do titereiro. 

Quase consigo ouvir, quando fecho os olhos para tentar conter as lágrimas em público, a risada metálica de alguém que se diverte com nossas desilusões. É como um elástico, que se estica numa onda de alegrias e idílios, para depois tornar a contrair-se num marafo de solidão e desencanto. A lei da regressão à média é tão poderosa assim? Será que a vida é apenas essa sucessão de pequenas alegrias passageiras e de sofrimentos tortuosos? Parece-me que sim, essa é a resposta. 

Algumas pessoas demoram a vida inteira para encontrar o amor, e vivem o resto de suas vidas ao lado daquela pessoa. Outros podem encontrar o amor aos quinze anos, e não aproveitar mais do que alguns breves meses, antes dos tentáculos gelados da morte se colocarem ao redor de ambos. Tragédias e amores, numa miscelânea profusa de cores e dessabores. A vida é uma sucessão, sim, de alegrias e dores, mas uma sucessão caótica, onde nós tentamos, de algum modo, nos orientarmos em meio aos ventos violentos e das águas que nos levam para onde bem entende a mão que tece nossa história. 

Sinto-me fraco e absolutamente impotente diante dessa verdade. Uma gota que o oceano consumiu. Que posso fazer ante um furacão que a tudo destrói e a todos aterroriza? Nada, é o que somos diante da gigantesca realidade que nos cerca e, no entanto, nos integramos nela de algum modo. Nosso papel nesse mundo é um grande mistério. 

Parece, a primeira vista, que não passamos de destruidores, que espalham o ódio por onde quer que passemos. Não interessa onde seja, se há dor haverá um homem envolvido. Mas também, ao mesmo tempo somos aqueles condenados a sofrer essa mesma dor. Vivemos presos a esse ciclo, essa samsara, de dores, horrores e pestes. 

Qual será a espada capaz de quebrar essa roda da vida? Quem haverá de um dia encontrar tal amor que romperá o ciclo de ódio? Ou este mesmo amor não passa de um ilusão criada pelo destino para nos destruir e fazer-nos cair em mais ódio por meio da desilusão? Haverá nesse mundo mais do que essa tristeza silenciosa que pouco a pouco parece nos cercar como a névoa matutina?   

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