sábado, 14 de dezembro de 2019

Da faísca que se acendeu


Um breve relato de uma experiência feliz:

Há muito eu sentia um certa tristeza cada vez que tinha de cantar. Era como se o fizesse por obrigação, ou pior, se o que eu fizesse parecesse obrigar os outros. Sentia que isso tirou toda aquela magia da música para mim, e eu adoro cantar! Todas as vezes que cantava parecia que as notas saiam automaticamente, sem aquele coração que transforma uma musica numa verdadeira obra de arte... Parecia, para todos os efeitos, que a luz que havia em minha música havia se apagado.

Mas hoje foi diferente. Vozes diferentes, músicas diferentes e uma sensação diferente. Enquanto cantava, a plenos pulmões, desgastando sem dó as minhas cordas vocais, eu senti que aquela pequena faísca que aos poucos se apagava se acendeu novamente, tornando a música num fogo abrasador mais uma vez. Cantei, com a alma e o coração aquelas notas que antes pareciam chatas e enfadonhas. Arrisquei algumas brincadeiras, fiz um solo, fui até a segunda voz, terminei a última e derradeira nota com toda a força, cantei com alegria, enfim, estava bem reencontrando a música que havia perdido por entre aqueles olhos frios de antes. 

Talvez não fosse a música que havia morrido para mim. Talvez a música que morreu para os outros estivesse me afetando de tal modo que já não via mais brilho nos meus compassos. Cantar com outras pessoas me fez perceber isso. O novo trouxe luz aquela partitura empoeirada de antes, que já não encantava ninguém, senão que era como um instrumento quebrado, incapaz de fazer um belo som e tocar o coração. 

Fico feliz, muito feliz, em ver que a música não morreu, mas que ainda repousa graciosamente dentro de mim, esperando o momento certo de, assim como nesta noite do 3° Domingo do Advento, ser despertada e fazer-se brilhar uma vez mais, contagiando a todos com aquele mesmo amor que só os grandes músicos conseguem para tocar os corações. 

Vou agora dormir, sorrindo alegre, sabendo que a voz cansada que sinto, foi resultado de uma música maravilhosa, que despertou em mim o que há muito havia perdido. 

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