domingo, 15 de dezembro de 2019

Da metamorfose


Não queria escrever sobre coisas pessimistas depois do último texto que publiquei, mas como fugir dessas experiências humanas tão ricas de significado que nos deixam marcas tão profundas que até o tempo encontra dificuldade em superar? 

Hoje me senti sozinho, como já esperava. Sentado esperando por todos que, ao chegarem, não me deram mais do que olhares frios e vazios. 

Como as coisas chegaram a esse ponto? Como esquecemos as risadas e conversas infindáveis noite a dentro, para nos tornamos estranhos, odiando cada suspiro, cada olhar que o outro dá em nossa direção? 

O mundo, em seu imparável ímpeto transformador continuar metamorfoseando as coisas ao nosso redor, fazendo com que tudo permaneça inconstante. Nossas amizades, amores, enfim, nossas relações humana, repletas de tantos pormenores, de tantas nuances, é talvez a coisa mais transformadora do mundo. O beijo que se transforma numa violenta cusparada sob a face. A mão amiga que crava uma faca no profundo do peito, sem dó e sem aquela clemência e doçura que outro dia impregnara o ar. É mesmo uma constatação terrível. 

Como não encher-se então de uma profunda desesperança? Algumas pessoas me olharam hoje e, mesmo maquiado, diziam que estava com cara de morto. Não sabem elas que há muito já me sinto assim e que meu exterior apenas está exalando o que há dentro de mim. Uma casca vazia, putrefata, uma sombra daquilo que era. E qual a razão disso? A transformação do mundo que turvou a água cristalina de minha vida num lamaçal malcheiroso, onde agora minha existência chafurda sem esperança de um dia escapar dali. 

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