terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

De outro buquê

Em uma noite escura, viajei sem grandes aspirações, deixando-me levar pela perspectiva de rever velhos amigos. Pensava que seria apenas uma reunião casual, como fizemos tantas e tantas vezes, após a missa de domingo, comendo massa preparada às pressas e tomando Coca-Cola, sorrindo e cantando, brincando até que nos cansássemos e fôssemos cada um para sua própria casa. 

Não estava preparado para vê-lo. Quando cheguei e o vi, de pé, altivo e apolíneo, quase caí para trás, lançado por uma força invisível que imediatamente se colocou pesadamente sobre mim. Foi essa mesma força que, instantes depois me puxou para ele, sem que me desse chance de recuar, fazendo-o me esmagar entre braços. 30 segundos, no meio de todos, os corações se tocando e eu controlando as minhas lágrimas. 

Não estava preparado para vê-lo, e muito menos preparado para sentir a força que ele tem sobre mim. Três vezes naquela noite esses abraços se repetiram, e três vezes eu pude sentir o universo inteiro dentro das batidas de seu coração. Um universo de medo, de repressão, mas ainda assim tão lindo e hipnotizante que tudo o que pude fazer era desejar ficar ali pra sempre, naquele amálgama de dois universos, num infinito particular, que deixou um perfume em minha roupa como uma mancha, que eu nunca irei lavar. 

Gravei as palavras que disse em meu ouvido, apenas eu as ouvi. Guardei no coração aquele olhar, aquele toque, aquela mão gentil. Mas também guardei no olhar que trata-se de um tesouro inalcançável para mim e que, além disso, já foi encontrado por outra pessoa. 

“Quando adoeço,
Sem motivo, sem porquê
É quando esqueço
Que és flor de outro buquê.”

(Cesar Fontana)

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