quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

O jardim e a fonte

Que não se nasçam novas raízes nos canteiros de meu coração, que não se ponham raízes profundas, daquelas que se espalham e crescem por toda a parte, daquelas que não e consegue arrancar, que ficam para sempre, escondidas, só esperando por uma chuva ou um raio de sol para novamente vir a crescer e a se mostrar. 

Meu jardim tornou-se jardim fechado, minhas fontes foram lacradas a todos aqueles que queiram ver-se refletidos em suas águas límpidas. No fundo, as pedras delicadamente esculpidas, todas redondinhas e miúdas, cinzas e brancas como o seixo. Por fora, grandes e pontudas, de uma beleza rústica, firme. Ah... se estas fontes cristalinas pudessem refletir as imagens de meu coração... Mas eu logo deito minha mão com força sobre sua superfície que logo se turva, que não mais dá espaço aos devaneios de minha carente candura. 

Que estas águas, que lentamente escorrem das fontes, não encham de vida novamente as folhas secas, as raízes profundas que ainda não consegui arrancar, revolvendo a terra com violência. Sempre sobra algo, uma semente, uma lembrança, um pequeno desejo, uma pequenina labareda, esperando apenas um soprar do vento para tornar-se um grande incêndio. 

É uma luta contra um fertilizante invisível, contra meu próprio coração, é tentar segurar as águas de um fonte que desembocam num grande e violento rio. Só consigo manter sob controle por pouco tempo, ela logo irrompe, sem que nada e nem ninguém a contenha. E logo começa a transbordar, pelos meus olhos, por cada um de meus poros. É uma batalha já perdida desde o início que, no entanto, já não posso deixar de lutar, pois corro o risco de ser completamente dominado pelas matas grossas e fechadas de um amor sufocante, ao invés de só me deitar a sombra dos cedros, por entre as açucenas olvidado, meu verdadeiro desejo mais puro. 

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