quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Dias nublados

Atravessando um momento nublado. Minha cama tem sido meu único refúgio, já há três dias que não saio dela. Não tenho conseguido me concentrar, tampouco me distrair com alguma coisa capaz de afastar essa sensação cinza que há em mim. O sono, o torpor, tudo parece me dominar. Não encontro força ou razão para fazer qualquer coisa que seja. Apenas fico aqui, no escuro, ouvindo um álbum depois do outro, sozinho, esperando alguma coisa, que eu ainda não sei o que é, acontecer...

Queria pedir pizza, como há alguns dias atrás, ou comer um daqueles hambúrgueres artesanais enormes. Mas não quero mais. Agora só quero voltar para o meu quarto e dormir. O desejo morreu, se esmaeceu até desaparecer completamente. Queria voltar e ouvir aquela voz, sorrir, brincar, sentir o calor de suas mãos ao redor de mim. Mas agora não quero mais. Tenho medo, muito medo. Imaginar que qualquer coisa possa me arrancar desse meu lugar seguro é assustador demais e, no entanto, eu sei que ficando aqui o meu medo só vai aumentar. 

Fui tomado por um súbito desânimo. De repente, não mais que de repente, a minha visão ficou turva, e turvou-se também a minha vontade. Ela já não mais existia, apenas uma sombra fria, pequenas cinzas voando ao vento como farrapos. A desesperança me abraçou, com seu longo manto, outrora verde, mas que agora ostenta uma cor pálida, sem vida. 

É assim que me sinto. Vestindo um manto pálido, quase sem cor e sem vida. Meu coração, tomado por essa desesperança, que o preencheu com força, deixando não mais do que a velha sensação de vazio. Irônica forma de dizer. Não acredito mais, nas pessoas, no amor, no carinho, na alegria. Não acredito mais. Meu destino, o qual devo aceitar com uma resiliência estoica, é a solidão, incompreendida em meio aos barulhos do mundo. 

Minha única reação é voltar para a cama, ficar sozinho em meu quarto. Quem sabe algum dia essa desesperança vá embora e eu veja a luz novamente?

Tentei olhar as redes sociais um pouco, antes de dormir pois, quem sabe, elas me animassem. Muito pelo contrário. Pessoas sorridentes, corpos nus, perfeitos e bem definidos  ostentando aquela beleza perfeita que tanto almejo. Vejo então todos aqueles meninos de pele clara, cabelo perfeito e liso, corpo forte. Vejo os olhos com lágrimas e coloco de lado o celular.

É, talvez seja melhor eu dormir mesmo.

No entanto, acordo chorando de novo, pois sonhei ter espetado o dedo numa rosa que nunca ganhei mas mesmo assim sangrou. Não sei onde mais posso encontrar refúgio dos ventos frios destes dias nublados. 

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