domingo, 16 de fevereiro de 2020

Longe das mãos


Uma inquietude me sobe pelos nervos das pernas, agitando-as freneticamente enquanto a música calma gera ao meu redor um contraponto difícil de conciliar. Estou, ao mesmo tempo, impaciente e estranhamente atônito. Olhando exasperado para o teto branco ou para as borboletas da parede. 

Ela vai subindo, como um fogo incômodo, pela coluna e chega até a minha cabeça. Minhas mãos coçam para dizer algo que não sei o que é. Minha mente, vagueia, perdida e distante, muitas galáxias longe daqui. 

Miríades e miríades de estrelas, incontáveis pontinhos de luz num imensurável oceano de escuridão. É para lá, para o longínquo desconhecido, que tenho vontade de ir. A inquietude que me sobe como formiga me faz querer andar sem rumo, o rumo não importa, só importa sair daqui, fugir, nunca mais voltar, ter ou dar notícias. Desaparecer no imenso espaço, como uma estrelinha que brilhou e se apagou. 

É, assim seria bem melhor. Longe do barulho, das questões que me inquietam. De que importam essas coisas na imensidão do cosmos? Nada. Menos do que um grão de poeira e, no entanto, é esse tipo de existência que eu desejo e, ao mesmo tempo, mais temo. 

Um querendo não querer, ser e não ser ao mesmo tempo. Ser lembrado, embora esquecido por todos. Faz algum sentido? Talvez eu queira ser lembrado, mais do que tudo, mas como nada em mim é realmente memorável eu prefiro se esquecido, a ser lembrado como alguém deplorável e patético. A grandeza ou o esquecimento absoluto nos confins da história, de uma história sem importância alguma. 

O céu aos poucos se escurece, abandona aquele azul claro e tímido e, pouco a pouco, vai adquirindo o cinza violento, melancólico, é verdade, mas poderoso. O ribombar dos trovões anunciam que logo logo a chuva deve cair. Certamente bem na hora que eu preciso sair. É sempre assim. É esse tipo de coisa que me faz pensar que sumir, pra algum lugar sem nenhuma obrigação ou responsabilidade, seja o melhor, longe, quem sabe, das mãos do próprio destino. Destino cujo mistério, me assusta, me faz ficar inquieto, temeroso com o que me aguarda no futuro. 

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