segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Meu dilema dos últimos dias

Me deparei com um dilema bastante íntimo nos últimos dias, mas tive de aguardar, é claro, aquele período mínimo de maturação do pensamento antes de conseguir dizer qualquer coisa a respeito. Com efeito, o volume de coisas que sei e sinto, mas não consigo dizer é gigantesco e assustador. Há tanto a dizer que ainda não consigo verbalizar, só consigo pensar no quão deficiente é ainda minha formação intelectual e no quanto ainda preciso melhorar para conseguir ainda dizer, de algum modo, aquilo que percebi em minhas experiências pessoais.

Pois bem, alguns dias atrás falei, não me lembro se o foi de forma clara ou poética, sobre as variações de libido que eu experimento, ocasionadas em grande parte pela relação delicada entre as demandas da minha idade e dos remédios psiquiátricos que eu tomo. O que me acontece é que eu experimento uma flutuação quase randômica da minha libido, absolutamente descontrolada, o que me deixa numa série de situações desagradáveis.

Em dados momentos, que costumam durar de alguns dias até várias semanas, eu experimento uma completa apatia sexual. Me transformo em algum tipo de alface, sem nenhuma sombra de desejo. Nem mesmo poluções noturnas me aparecem. Cheguei a ficar com uma pessoa nesse período sem sentir absolutamente nada.

Por outro lado, em outros momentos, há uma explosão de libido que acaba me deixando desnorteado, em meio as ondas de hormônios que são liberados o tempo todo. Parece que voltei à puberdade, excitado com qualquer coisa, exatamente como um adolescente. Daí os momentos de calor, de uma paixão avassaladora e de uma erotização fora do normal.

Esse desequilíbrio me incomoda, aliás, como todo desequilíbrio. Saber que me tornei uma brasa que, coberta de cinzas ainda esconde a potência de incendiar o mundo me incomoda. Sexualizar até as conversar mais banais com meus amigos me incomoda. Não poder sair usando um short leve me incomoda. Mas eu não posso simplesmente parar de tomar os remédios, seria loucura, eu poderia ficar ainda pior.

Daí me vem um outro pensamento, desta vez questionador: e qual o problema da erotização? Será que não estou me sentindo culpado por sentir algo que não é culpa minha? Não deveria apenas tentar viver o momento?

Mas isso também me incomoda. Não me vejo instalando um aplicativo e usando-o para descarregar. Algo em mim impede de mergulhar em algo tão raso quanto uma relação puramente sexual. Mas se é algo raso por qual razão eu quero mergulhar? Poderia apenas aproveitar o momento, o prazer.

Minha moralidade me impede, ao passo que me deixa triste por sentir reprimido, mas bem sei que se fizesse o que me mandam os hormônios eu continuaria igualmente infeliz. Todas as vezes que segui apenas o que sentia eu continuei igual ou mais vazio do que antes.

Por isso penso ser essa variação tão problemática. Se eu apenas a sinto, como um fluxo de cores, sabores e sensações, embarco numa tortura quase sem fim, fritando na cama de um lado para o outro. Se ou atrás de satisfazes esses desejos continuo, no fim das contas, tão incomodado quanto antes, não sendo o alívio sexual nenhum contributo para o alívio da situação geral.

Me sinto então preso, entre a demonização da libido e a empiria de saber que ela não me traz conforto algum. Desejando sem querer desejar. Os adeptos da liberdade sexual vão dizer que isso é tudo culpa da repressão, que me sentiria melhor se apenas liberasse o que sinto e sentisse sem vergonha ou incômodo. Não sei se é bem isso pois, como já disse, todas as vezes que cedi a esses impulsos eu não consegui nada além de um orgasmo facilmente esquecível alguns minutos depois. Outros, no entanto, podem dizer que é apenas um fluxo de energia que eu deveria levar para outro lugar, coisa que eu também não consigo fazer. Não dá pra usar essa energia para estudar ou construir uma casa, ela simplesmente rouba minha atenção de tudo que tento fazer e acaba por sugando minhas outras energias, deixando-me apático, um bonequinho com ereção.

Reconheço a repressão que há em mim, movida não por uma religiosidade desmedida, mas por um sentimento de repulsa por todas as pessoas que vivem suas liberdades como se não houvesse no mundo nada mais importante do que o sexo. E, no entanto, nunca deixei de gozar quando senti vontade, muito embora não me tenha dado nada do que esperava realmente. Vejo nessas pessoas o mesmo que vejo naqueles que bebem sem controle ou que vão de festa em festa todos os fins de semana: desespero. Desespero em preencher o grande vazio que sentem. O sexo é apenas a forma que encontraram para tentar preencher esse vazio. O prazer, momentâneo que passa em alguns minutos, deve ser estendido, repetido à exaustão, mas nunca consegue preencher o vazio. As pessoas, cegas por aquele sentimento do orgasmo, acham que estão fazendo algo errado, e então trocam, de parceiro, de posição, sem saber que estão simplesmente procurando no lugar errado. Como sei disso? Se o sexo fosse a garantia da felicidade a informação já teria sido repassada a todos, afinal, todo mundo fala e faz sexo, mas os índices de depressão não diminuíram por causa disso. Não penso que valha então, liberar geral, afinal só vai trazer mais desespero.

Ao fim então que posso dizer? Apenas que não sei, não sei o que fazer.

Belo fim para um texto, não é?

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