Tenho muito mais do que uma grande maioria das pessoas não têm. Meu pai pagou integralmente e sem dificuldade a minha faculdade e minhas especializações. Tenho dinheiro pra pegar um Uber pra um lugar que fica há 10 minutos de caminhada. Não falta comida com fartura na minha mesa e eu posso comer de tudo o que eu tiver vontade. Minha família tem defeitos, traições e brigas, mas qual família não as tem? Eu tenho a vida que muitos sonham ter.
Mas então, qual a razão de toda angústia no meu peito?
Mesmo com tudo isso eu ainda sinto um absoluto vazio dentro de mim. É como se um abismo se abrisse violentamente dentro de minhas vísceras, lançando no nada o meu coração e regando com meu sangue o chão frio do fundo de um vale tão profundo que a luz do sol não consegue alcançar.
E este é um vazio que corrói, como vermes num corpo que apodrece num terreno baldio, sendo devorado por abutres e pouco a pouco se desfazendo numa massa disforme de carne e ossos, até desaparecer completamente como pó, talvez servindo como adubo para alguma grande árvore, encontrando utilidade e propósito somente no fim dessa existência, não sendo mais do que uma grande metamorfose confusa e sem razão para ser duranta toda a vida.
Queria entender de onde vem esse vazio, como tampá-lo. Vazio que não se pode preencher com risadas, com lágrimas e nem com álcool ou remédios para dormir. É apenas um vazio, um grande buraco que se abre e que engole tudo, todos os resquícios de alegria.
O resultado é um mundo cinza, onde a música não faz sentido, onde as flores perdem as cores e a risada doce das crianças torna-se um balbuciar desconfortável. Parece que não tenho nada a perder, senão que já perdi tudo quando minha vontade viver se esvaiu como poeira ao vento. E agora também meu corpo parece desvanecer, pouco a pouco, sem conseguir levantar-se, sem conseguir a disposição para levantar a cada dia que amanhece, senão que cada amanhecer se tornou um desespero.
"Considero o Niilismo o maior ato de liberdade de um homem, um Niilista não tem nada a perder pois já perdeu tudo."
(Gerson de Rodrigues)
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