sexta-feira, 12 de junho de 2020

Doze de Junho

Detesto esse dia, dia 12 de junho, dia dos namorados. É quando a internet fica lotada de fotos e declarações de como é fantástico ter tal ou qual pessoa presente na vida. São muitos os corações, os beijos, as musicas do Lulu Santos como fundo dos vídeos bregas. Há quem diga que, por conta da pandemia, os carros de mensagem estão se tornando populares novamente. Que perspectiva horrorosa!

Mas eu não detesto esse dia pela sua marca piegas, não. Eu o odeio porque sou incapaz de entender o significado de um dia feito para comemorar a companhia de alguém. E mais do que detestar esse dia eu ainda detesto o próprio fato de me incomodar com isso. Essa carência horrenda que me faz desejar algo desnecessário, que me faz querer alguém do meu lado mesmo sabendo bem que isso pode não ser, nem de longe, a coisa mais importante ou agradável do mundo. 

Detesto esse sentimento de ser insuficiente, de não me bastar a mim mesmo, de precisar de um outro alguém para me sentir completo. Acaso não posso eu ser feliz sozinho? Afinal estive sempre só, essa é minha única oportunidade. Ainda que a carência queira me dizer o contrário, com seus sussurros maliciosos em meu ouvido. E eu acredito nela. É patético. 

Quantos casais postam suas declarações hoje vivendo traições, mentiras e desconfianças. Talvez as poesias sejam na verdade preces por amores melhores. Tudo não parece ser mais do que afetação fingida, mentiras.  Quantos não fazem da vida do outro um verdadeiro inferno e ainda assim postam como se fossem os mais felizes do mundo? Esse deve ser, no máximo, seu desejo. Todos dizem viver um amor que nem sequer existe. É também patético. 

Pode-se dizer, de modo pejorativo até, que isso que digo é discurso de quem nunca conheceu o amor, de quem nunca foi amado. Mas antes de me ofender eu sou obrigado a concordar. É exatamente por isso que eu detesto o dia dos namorados. Por toda a cultura criada ao redor de algo que, para mim, é menos real do que gnomos de jardins que vivem dentro de um bule de chá. Eu não conheço o amor. Não como o vendem. 

Conheço a dor que é ver o outro ir embora sem prestar atenção. Conheço a sensação de saber que preciso fazer a dor passar, de algum jeito. Conheço a solidão das noites frias e vazias, e conheço a solidão de andar ao lado de quem sorri contente por ter alguém segurando sua mão. Mas eu não conheço o amor, e escrever sobre isso me parece patético!

"Quantos amores jurados pra sempre.
Quantos você conseguiu preservar?"

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