terça-feira, 9 de junho de 2020

Das flores que chegaram

Um sentimento que nasce, ou se revela? Algo que parece crescer, cujas raízes parecem se fortalecer dentro de mim. É um sentimento de ternura, um carinho especial, algo que me aquece o coração, que me tranquiliza a alma. 

Eu não sou dizer de onde veio. Não sei dizer quando chegou. Tudo o que eu sei é que, quando percebi, já haviam novas flores no meu jardim. Também não sei dizer o que eu espero aqui. Uma mensagem, um abraço, um beijo? Eu não sei mais nem sequer dizer o que eu estou sentindo. Não sei mais a quem eu amo ou quem desejo distância. 

Mas eu sei que não posso colher estas flores, eu sequer posso me aproximar e sentir o seu perfume. Esse é mais um daqueles truques do destino que nos faz ver e desejar algo, somente para tirar de nossas mãos no instante seguinte. É uma artimanha cruel, e eu nem sequer sei o motivo para ele fazer isso. Acho que é sua veia intrinsecamente sádica a querer rir-se com nossa decepção. 

Mesmo que sua beleza seja tão delicada, tão pura, mesmo que seu perfume me atraia, eu sei que dente suas folhas es escondem terríveis espinhos repletos de veneno, e até o doce arome de suas pétalas está carregado de uma névoa sombria, feita para me entorpecer os sentidos e me atrair para o precipício. 

Percebo então que não se trata de um jardim, o meu jardim, mas de uma única coisa, que floresceu no alto de uma montanha, ao lado de uma penhasco mortal. Quem dela se aproxima cai inevitavelmente na escuridão daquela armadilha. Ainda que suas cores sejam lindas, ainda que brilhem inocentemente sob a luz do sol, ainda assim são mortais como uma lâmina afiada. 

É como um sorriso, um abraço carinhoso, embora em si mesmo seja puro e bom, pode esconder as mais terríveis intenções assassinas. Tenho medo, do carinho, da atenção, dessa sensação quente no coração. Decidi me afastar, não fazer mais do que o estritamente necessário, sem me levar ao extremo. Fazer o que preciso fazer, e nada mais. 

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