domingo, 28 de junho de 2020

O pior de tudo

O pior de tudo é fingir que tudo está bem, o pior de tudo é ter que sorrir e brincar quando na verdade tudo o que eu mais queria era fugir, me esconder de tudo e de todos, até de mim mesmo se possível. O pior é ter que viver quando se tem, na perspectiva do fim, a única centelha de esperança de que tudo isso possa um dia acabar. 

Mas enquanto não acaba eu sou obrigado, a contemplar com proximidade, o meu próprio fracasso, dia após dia, sem nunca conseguir o sucesso, sem que nada dê certo. Cada dia vendo tudo desmoronar, sem poder fazer nada para mudar isso. Cada dia vento tudo voltar ao nada. Cada dia que eu não sou nada, e nada mais do que isso!

Uma vida profissional e intelectual fracassada, uma vida de santidade inexistente, uma família em frangalhos. E a cada dia eu sou obrigado a abrir um sorriso e viver como se estivéssemos no ápice de nossas vidas, como se tudo estivesse bem. Mas não está, nada está bom. Tudo está, como disse, desmoronando e virando pó diante do meus olhos. O jardim se torna deserto. Já não há mais sombra fresca, só o ardor de um sol causticante que parece ferver minha mente e queimar a minh'alma em pecado e ódio, como num oceano de lava. 

Eu só queria conseguir fazer o que me proponho com o mínimo de dignidade, só queria que meu esforço valesse de alguma coisa, mas quanto mais me esforço mais vejo o quão limitado eu sou, e mais continuo a errar, sem nuca conseguir algo satisfatório. Eu não busco a perfeição, não sou idealista a esse ponto, e também não concordo em dizer que sou pessimista, eu sou um realista, e a realidade é que sou patético, incapaz e extremamente limitado. 

A realidade é que eu sei que tudo está desmoronando, porque esse é o destino de todas as coisas, de todas as pessoas. O decaimento é o futuro comum à todos nós. 

A realidade é que eu não aguento mais. 

É isso. 

EU. 

NÃO. 

AGUENTO. 

MAIS. 

Mas eu preciso aguentar, eu não posso surtar agora, tem um monte de coisas que eu preciso fazer, pessoas que eu preciso ajudar, minha própria mãe que eu preciso reerguer, mas eu não aguento. E eu não posso chorar, porque se eu chorar vão pensar que eu sou só uma criança frágil e idiota. E eu não quero que pensem isso de mim. Mas eu não aguento. 

Eu sou fraco, frágil e estúpido demais para conseguir fazer qualquer uma dessas coisas, e esse peso há muito se tornou mais do que eu posso carregar. A minha própria mente é mais do que eu posso carregar. 

Eu já não consigo mais ler, assistir séries ou filmes e nem conversar sem pensar em tudo que está e que pode vir a dar errado. Eu não consigo acreditar mais no dia seguinte, senão que sempre temo e espero pelo pior, pois sempre que me iludo, por um instante que seja, que as coisas estão bem ou que começarão a encaminhar-se, tudo se esvai ante meus olhos. Meus sonhos se desfazem como miragens, com areia por entre meus dedos. 

E estou, acima de tudo, cansado. Cansado de ver minha mãe sofrer e não poder fazer nada. Cansado de me esforçar e sempre fracassar em tudo o que faço. Cansado de me apaixonar. Cansado de acreditar no outro e ser decepcionado. Cansado de me deixar ser iludido por sorrisos, por mensagens e por promessas. Cansado dessa existência miserável que só me oferece tristezas, decepções e o desprezo de todos. 

O pior de tudo é fingir que tudo está bem, o pior de tudo é ter que sorrir e brincar quando na verdade tudo o que eu mais queria era fugir, me esconder de tudo e de todos, até de mim mesmo se possível. O pior é ter que viver quando se tem, na perspectiva do fim, a única centelha de esperança de que tudo isso possa um dia acabar. 

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