domingo, 25 de setembro de 2022

Ciclo e silêncio

Acordei no horário habitual, mas algo no meu corpo estava diferente, e também na minha mente. Não sabia identificar de primeira se era um novo episódio ou apenas cansaço, mas me sentia pesado, mesmo depois de desperto a mente ainda anuviada, como se pedaços de chumbo estivem me puxando pra baixo. Por alguns momentos eu ouvi o canto distante de pássaros e o vento batendo na minha janela, e fechei os olhos tentando buscar forças, e felizmente as encontrei, mas mesmo que consiga me levantar eu ainda sinto tudo pesado, ainda sinto como se meus olhos pesassem e como se algo puxasse meus braços e pernas pra baixo. 

Estava fora de mim no caminho para o trabalho, não vi o tempo passar e entrei e saí do ônibus no automático. Sentado eu fiquei olhando as luzes e deixando a visão passar pelas telas sem me deter em nada. O dia iluminado, no entanto, deixou as pessoas ao meu redor agitadas, talvez pela animação de finalmente dois dias seguidos de sol depois de semanas inteiras nubladas, mas eu estou quieto, pensativo. Pensando no quê exatamente? Não sei dizer bem, ontem assisti uma aula magnífica sobre a desmistificação daquela história sobre os limites da linguagem e a importância de adquirir os meios necessários para expressar nossa experiência com outra consciência, e isso tem reverberado em mim desde então, e tenho pensado nisso mas, embora se trate justamente de falar ao mundo do que vejo no mundo e do significado que isso tem no meu interior, eu estou mais contido no meu universo particular do que realmente prestando atenção ao meu redor. 

Muito isso só seja possível também pelo mundo que me cerca, a bela paisagem da vizinhança no trabalho, as pessoas bonitas que vejo, as séries que assisto e as músicas que escuto. Tudo isso gera a atmosfera que possibilita que, no meu interior, eu medite sobre a beleza que capto no exterior, ainda que não fique o tempo todo pensando nela, mas é nela que se apoia o pensamento que vagueia livremente no mundo das ideias. 

Também observo e fico a pensar em algumas coisas do presente e do futuro. Em como tenho visto pouco a minha mãe esses dias, em como preciso comprar um novo protetor solar e coisas assim e essas aleatoriedades se misturam, pouco a pouco, com coisas mais importantes, como o tema da linguagem de que falei anteriormente. Não só o que digo, e atualmente não tenho dito muita coisa que valha a pena ouvir, senão que me preparo ainda para um dia entender e, se assim me for concedido, dizer a alguém, mas também a minha imagem passa uma mensagem. Há alguns dias eu disse que havia aceitado o meu cabelo ao vento, pois estava simplesmente satisfeito em ir andar na beira do mar e a brisa fria me agradava, mas essa imagem também refletia um interior que, assim como externamente me preocupava mais com o mar do que com o vento, as coisas mais importantes vêm ordenadas antes das mais triviais. 

Não venho me alongando muito em conversas fúteis, small talk, o que não significa que consegui excluir isso completamente dos meus dias, senão que venho tentando dar prioridade cada vez mais as coisas que tenham um real importância pra mim. E, como ainda sou inexperiente, prefiro ficar calado e ouvir os que sabem mais a dizer alguma coisa. Tenho chegado em casa então e me silenciado por algumas horas a ouvir aulas e conversas entre pessoas que discutem assuntos importantes, seja sobre a política do dia, superficial mas ainda importante, como discussões mais profundas como investigações históricas e filosóficas sobre o pensamento do homem contemporâneo. Me lembro então das palavras valiosas do professor:

"Se você não tem nada de valioso para falar, fique quieto. Eu acho que é inteiramente normal pessoas que são amigas que gostam muito uma da outra, ficarem quietas. Essa ansiedade de falar, esse temor do silêncio isso corrompe as pessoas." (Olavo de Carvalho)

E então eu venho ficado mais em silêncio, seja no trabalho onde só preciso falar quando me perguntam algo das obras aqui expostas, seja em casa onde prefiro estudar, ou caminhando à beira do mar onde deixo que o som das águas se quebrando falem mais também ao meu coração, especialmente em dias mais melancólicos como este, onde a depressão pouco a pouco se aproxima da superfície da minha consciência e me deixa assim, um pouco mais frágil e sem contorno. 

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