domingo, 11 de setembro de 2022

Deuses

"Não é permitido aos humanos renegar os deuses!"

Apolo disse imponente e arrogante para o pequeno cavaleiro cujo cosmo se elevava até o infinito em sua frente e que desprezava a sua posição de menosprezar os humanos fracos e, aos seus olhos, insignificantes. 

Acho que já fiz uma reflexão sobre esse trecho do Prólogo do Céu há alguns anos mas, de todo modo, achei que seria interessante falar um pouco sobre isso agora mais uma vez. Isso porque vejo que estamos agora rodeados de deuses que nos obrigam a adorá-los o tempo todo. Escrevia hoje cedo um texto e me deparei com um trecho da República de Platão onde ele falava daqueles que, sem experiência da sabedoria e da virtude, estão sempre em festas e diversões e são levados cada vez mais para baixo, como animais. 

Tal afirmação não poderia ser mais atual, hoje que vivemos no império dos divertimentos e onde as pessoas sequer conseguem imaginar que possa existir algo de melhor. Essas coisas, esses prazeres momentâneos que buscamos sempre com mais e mais afinco ignorando o que há de verdadeiro no mundo são os deuses que somos obrigados a cultuar. 

Seja nos corpos perfeitos ou nas histórias idiotizantes eles estão sempre lá, sempre nos obrigado a olhar para baixo como animais, presos a lama e achando que o cheiro podre que vem dali é tudo que há para sentir, sem permitir que elevemos o olhar para o monte onde se ergue um jardim de flores perfumadas. E não nos é permitidos renegá-los, eles nos destroem se o fazemos, com a solidão acachapante. Mas não importa, se é isso que são os deuses então não precisamos deles, porque nosso coração é capaz de elevar-se acima deles, e quando isso acontece, o que os deuses vão julgar e o que eles vão perdoar? 

Em face da eternidade até esses deuses não passam de poeira, e é em vista e em face dessa eternidade que tudo o que fazemos deve se orientar, nada mais importa. E talvez por isso sejamos tão incompreendidos por aqueles que vivem apenas a emergência do hoje, não que o hoje não tenha nenhuma importância, mas a sua importância vem justamente da sua relação com a eternidade. 

E quantos deuses não continuam nos mantendo de cabeça baixa? Adorando-os pois precisam disso para existir, pois do contrário desapareceriam como areia no vento já que não há razão para existirem senão que serem esse arremedo de algo bom ao homem mas que o afasta do que é verdadeiramente Bom. São as coisas que "seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti" de que fala Santo Agostinho em suas Confissões e é justamente isso que devemos fazer: confessar que por muitas vezes nós nos esquecemos do que importa verdadeiramente e nos deixamos guiar por falsos deuses, tantas vezes sedutores.  

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