quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Do Homem Estético


"O discernimento estético é parte integrante da cultura espiritual. A música, as artes plásticas, o cinema e o teatro são armas letais usadas na desumanização das massas, e isto menos pelo conteúdo propagandístico explícito (uma exceção) do que pelo simples fato de dissolverem o senso estético das multidões pela exposição repetida ao feio e disforme apresentado como normal."
 (Olavo de Carvalho)

Em contato com diversas formas da beleza se apresentar, inclusive da ausência da própria beleza, eu venho refletindo mais e mais sobre o quanto isso me tem impactado. Da janela do primeiro andar do pavilhão aqui da galeria eu tenho a vista de uma bela casa, no estilo neocolonial catarinense, e muito verde, é uma bela vista. Andando alguns minutos da minha casa eu vou até um trapiche na Baía da Babitonga e lá fico sentado por vários minutos, olhando aquela imensidão cinza do oceano (cinza porque ainda não andei num dia de sol para ver o mar azul). Alguns dos quadros expostos aqui, ou pelo menos nos numerosos catálogos, também possuem uma certa beleza em si, algo de inspirador sai deles também. 

Assim como quando entro na internet e vejo a beleza arrebatadora de um Wonho, e seu corpo gigantesco em contraste com seu rosto de expressão fofa e até quase infantil. A sensualidade aliada a aparência tímida, e de tímido ele não tem nada, mas o sorriso meigo permanece lá, a despeito do apelo sexual que ele provoca em suas apresentações. A beleza dele é inquestionável, assim como tantos outros por aí, me vem a mente nesse momento o Kim Woojin, o First Chalongrat e, bem, a lista segue indefinidamente. 

 Ouvi uma história certa vez, que foi contada com certo desdém, de que uma linda mulher na Grécia antiga estava em julgamento e ela era culpada, e então em defesa dela tiraram-lhe a roupa na frente do júri e então ela foi absolvida porque ela, sendo bela, não poderia fazer o mal porque o belo é bom e dele nada de mal pode vir. Bom, guardadas as devidas proporções e o teor em que a história me foi contada, que era justamente de desmerecer a beleza e coloca-la como uma cobertura para a mentira, sendo então o oposto do que ela realmente é, a beleza é objetiva, embora o caráter individual não esteja necessariamente ligado a ela. O que se segue daí é que justamente por pior que fosse a mulher, e merecedora ou não de condenação por seu crime, ela ainda continuava bela. 

Mesmo então a despeito do seu caráter a beleza continua lá. em algum lugar, porque ela não é simplesmente a aparência do corpo, e mesmo que a mente e até a alma estejam corrompidos a beleza física não está a refletir essa corrupção, senão que reflete a Beleza verdadeira, que está muito acima de qualquer mera corrupção de um ente em particular. O que eu quero dizer é que a beleza é apenas um reflexo, símbolo da beleza verdadeira e imutável, e por isso pode ser encontrada até mesmo numa alma que se corrompeu, e justamente por esse contraste é que constatamos a beleza exterior e a corrupção interior.

E é quase uma heresia da minha parte começar um texto com um trecho do Professor Olavo e depois falar de artistas coreanos e tailandeses sobre beleza, mas acho que, guardadas as devidas proporções, também neles se encontra algo de esteticamente belo que também me inspira a buscar coisas mais belas. Isso porque quando leio algo, sejam das grandes obras da literatura universal como, por exemplo, na Divina Comédia quando aparece um anjo, há algo da beleza desses homens na forma como imagino a criatura divina. Também um mero cantor ou ator pode me ajudar a entender algo dessa beleza transcendente que há na descrição do divino de que faz Dante, e assim as coisas vão seguindo. Na beleza das curvas de seus corpos eu vejo também um pouco da beleza do homem, imagem e semelhança de Deus e, em certa medida, imagem e semelhança da beleza que é Deus. Não estou dizendo que são belos como Deus, mas que há algo da beleza de Deus neles, e que sua beleza apontam para uma beleza que transcende infinitamente a eles mesmos. 

O mesmo já disse tantas vezes sobre músicas, como uma bela sinfonia de Mahler, e sua força esmagadora, ou uma sonata de Beethoven, com aquela intensidade revolucionária de quem faz sair de si aquelas notas como um tratado das ondas que existiam dentro de seu peito, que transbordaram de seu ser assim como o amor de Deus transbordou na criação do homem. O homem também transborda e, quando isso acontece, ele é capaz de escrever uma Nona Sinfonia. Algo do eterno e imutável está presente não nas linhas da partitura, mas no todo daquela obra. Algo também há de belo e eterno mesmo num homem que, sendo belo hoje, pode não o ser mais amanhã. A verdadeira beleza, no entanto, não passa jamais. 

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