quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Belas visões

"Todo o esforço da filosofia, pelo menos na Grécia, foi o de habilitar as pessoas a perceber a realidade. [...] Quando você está em face da própria realidade – que não foi você quem criou, que não é você quem domina e dentro da qual você está (você está ao mesmo tempo diante e dentro dela) –, é ali que se dá o momento do conhecimento: no momento da percepção da realidade." 

(Olavo de Carvalho, COF, aula 15)

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Foi uma bela visão, a que mais me marcou nessa primeira semana em Joinville. Estava assistindo uma série de madrugada, sozinho na sala, e o som das vozes dos personagens era a única coisa que eu escutava, nem mesmo os grilos que normalmente se escuta estavam cantando. Ouvi um barulho diferente, um chiado baixinho, e levantei pra ver abrindo um pouco a cortina da porta que se abre para a rua, e vi a chuva caindo fininha, as gotas passando rápido pelas lâmpadas amarelas dos postes, as outras casas em silêncio e envoltas em escuridão, e o mangue ao lado da rua envolto nessa névoa de pequeninas agulhas caindo em direção ao chão. Os fios grossos de energia brilhavam com a água que rapidamente se acumulou sobre eles. Embora minhas mãos estivessem geladas o meu coração se aqueceu e eu me emocionei, e nem sei ao certo o motivo, apenas sei que foi uma bela visão, um belo "boa noite" que eu facilmente veria até que amanhecesse o dia. 

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Estou olhando para o céu nublado, já dei várias voltas pela casa, algumas caixas ainda espalhadas aqui e ali. Enviei currículos para uma longa lista de colégios aqui na cidade e agora procuro também por vagas em outros lugares. Esse é o momento em que as coisas começam a se acalmar e a ordem se instaurar, mas isso também significa que se inicia o período da incerteza em que preciso consolidar a mudança. E é justo agora que eu não sei o que fazer... Então sim, fico olhando para esse imenso céu nublado e me sinto perdido, até mesmo sufocado, e novamente me vem a imagem da serpente que rastejando pelo chão só pode sonhar em voar como a águia no alto céu. Mas águia não sou e dela não trago nem mesmo o olhar, apenas a aspiração do seu voar...

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Aproveitei a tarde fresca para caminhar um pouco, e fui até o braço do mar, há poucos minutos da minha casa. Foi uma caminhada interessante, a primeira que fiz desde que cheguei aqui simplesmente por andar. Depois de passar por uma avenida comercial eu encontrei um lugar na baía que me deixou contente. Fiquei ali por alguns minutos, olhando o mar cinza se balançar enquanto as gaivotas voavam e davam rasantes pegando peixinhos na água enquanto sentia o vento frio no meu rosto, foi muito bom, me acalmou um pouco e descobri um lugar onde posso ir quando estiver com pensamentos demais, certamente um achado. Não pensei em muita coisa ali, cantarolei algumas músicas mas principalmente fiquei fitando aquela imensidão que se estendia à minha frente, um símbolo do infinito, de uma tranquilidade que a qualquer momento poderia destruir tudo, de uma pequena bolha de conhecimento e luz que paira num oceano de desconhecido. Tantos símbolos ali contidos, e uma mente querendo esvaziar-se de si a aprender com essa gigantesca realidade. 

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