terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

A inconsciência me fascina

Dias de puro cansaço. O caos da missa de ontem me deixou no limite, tudo o que pude fazer ao voltar para casa foi me deitar e dormir por oito horas e, mesmo assim, quando acordei, meu corpo ainda doía tanto que eu custava me mexer. E sabe a melhor parte? Todos continuam mandando mensagens, me adicionando em grupos, me perguntando coisas, me cobrando outras, mas ninguém é capaz de perceber o quão cansado estou.

E amanhã volto ao trabalho, quem inventou que apenas dois dias são suficientes para descansar de semanas inteiras de cansaço? E eu nem consegui fazer a barba sequer, e certamente vão me julgar por isso, como se significasse que eu sou apenas um preguiçoso sem higiene. Eu tenho nojo dessas pessoas que esperam que eu fosse um daqueles homens de comercial de relógio, que usa terno no calor do verão como se isso fosse prova de inteligência e capacidade. Meu desprezo por essas pessoas é imensurável. 

Coloque-me do lado de um analfabeto de terno e pergunte quem é mais inteligente. Ninguém se importa com o esforço real, mas com a aparência da virtude, ninguém se importa com o conhecimento, mas com a aparência do mesmo. Infelizmente é necessário que eu suporte esses trastes, esses arremedos de ser humano pois, como dizia Carl Jung 

"É impossível se individuar sem relacionamento, também é impossível ter relações reais sem individuação. Pois, caso contrário, a ilusão intervém continuamente, e não sabemos onde estamos."

E sabe o que mais dói, além de que nunca se lembram de mim senão para me lançarem problemas ou dúvidas? É que ninguém, e agora falo mais especificamente daqueles dois, é que ninguém se importa realmente com meus sentimentos. Um deles passa por mim e nem me olha mais, sempre fui e continuarei sendo um estranho para ele. E o outro, tem outras tantas preocupações, já que tudo e qualquer coisa é mais importante e interessante que meu amor. 

Que posso fazer então diante desse cenário que não seja voltar a dormir, deixar que as mensagens cheguem, que o mundo se despedace, que todas as coisas cheguem ao fim ou retornem ao nada, que o caos vença a ordem, enquanto durmo, pois a inconsciência me fascina. Não pensar na falta de amor me fascina. Ignorar a desesperança é a única coisa que tenho.

E penso, antes que comece a sentir sono demais por causa das drogas, que aquela sacralidade que vejo está tão distante de mim. Que os cantos, a sóbria solenidade, o zelo e todo o respeito se perderam completamente. E eu faço parte disso, e não há muito que eu consiga mudar. Então, voltarei a dormir, cansado.

"Incapaz de conhecer pessoas novas, de suportar um novo conhecido; a rigor, repleto de um espanto infinito." (Franz Kafka)

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