domingo, 11 de fevereiro de 2024

Um domingo triste qualquer

Queria poder abraçar você bem forte, e dizer que vai ficar tudo bem, para não temer o futuro. Queria poder dizer que te amo, e te chamar de meu amor sem culpa. Queria poder ser e estar mais próximo, colocar tudo o que já temos em outro patamar. Queria que você enxergasse isso como eu, o quanto combinamos, como isso poderia dar certo, se você ao menos desse uma chance... Não canso de te esperar, mesmo sabendo que você não vem. 

Eu sou como eles sim, e você devia ter mais do que pavor, mas também nojo, de mim e não deles. Mas tudo bem, não me importo que tenha dito isso de brincadeira, não há nada que você possa dizer, verdade ou não, sobre mim que eu não pense mil vezes pior de mim mesmo. Também tenho pavor e nojo de mim. Se pudesse não me olharia no espelho. 

Não vou reclamar por ter ficado horas no ônibus quente, por não ter conseguido comprar comida ou por meu salário ter atrasado, ou por ter dívidas demais. Muita está bem pior do que eu. Só vou dormir. É isso, dormir. Não há muito que possa fazer nessa vida miserável. 

Então boa noite. Esse é seu sonho realizado: que eu me levantasse e trabalhasse, está feliz? Espero que sim, alguém deve ser feliz nessa vida maldita. 

X

Não se preocupe, não há como eu me machucar mais, e nem que você me machuque. Eu não espero mais nada, então não há mais decepção. Eu não sonho mais nada, então não há desilusão. Há apenas a realidade que, dia após dia, se reafirma e se confirma. Como o sol quente do qual não há como fugir ou a dureza do chão em que piso. Não há. 

Então quando você diz que tem de me machucar, para além de uma impossibilidade, tudo o que voce faz é me lembrar como a realidade é dura e cruel, mas isso não machuca. Meu corpo já apodrece em vida porque, para todos os efeitos, eu já estou morto, sou cadáver adiado. O que talvez pudesse me ressuscitar são palavras que nos são impossíveis dizer, o que também não é problema, não desejo voltar â vida. 

E já abracei meu destino, como que espero a visita de Thanatos quando lhe direi "finalmente deixará esse miserável em paz!" ao vê-lo diante de mim veste escura, pele clara e olhar distante. Já o espero ansiosamente, mas sozinho, pela sua vinda.

Mesmo assim sobreveio uma tristeza sem igual, comp que tomado de uma angústia ancestral, séculos de homens, poetas a despejar em suas letras a sua melancolia solitária, homens que viveram absolutamente sozinhos, que eram lembrados apenas por ter uma belz voz ou por saberem algo que ninguém mais queria saber ou poderia dizer, mas que tinham no olhar uma desilusão brutal. 

E não é apenas o pessimismo de um domingo triste, acho que toda a minha vida é como se fosse um grande domingo triste, acontece que, às vezes, estou ocupado demais para perceber isso.

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