sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Das consolações

Ânimos aflorados ao meu redor. Além do cansaço físico dos dias eufóricos acumulados a uma pequena (não tão pequena assim) mudança no meu local de trabalho fizeram com que a fadiga começasse a se acumular e, como é típico desses tempos de loucos, é claro que a cereja do bolo seria, além do cansaço, um clima bélico ao meu redor.

As dores que sinto por todo o corpo são então uma união dos dias de prolongada euforia com os móveis que precisei carregar, além é claro,  de todas as tensões que precisei amenizar, seja no trabalho ou na igreja. Parece que todos andam prestes a explodir e, de repente, me tornei algum tipo de esquadrão antibombas de um homem só. Então é claro que apelo para distrações, felizmente pessoas com TDAH têm essa facilidade quando estão desinteressadas, ou então pros óleos essenciais ou ainda deixando que as pessoas falem e esbravejem, soltando tudo aquilo que as incomoda. Falar ajuda, e falar dos desafetos mais ainda e eu, felizmente, sou bom ouvinte. Ou pelo menos é o que pensam, já que em momentos assim eu apenas ligo a minha musica interior e fica por isso mesmo. 

De todo modo, ontem fui dormir imerso numa tristeza profunda. Novamente me deparei com aquela sensação horrível de que as pessoas apenas me procuram quando precisam de algo, e isso me é confirmado por alguns que me rodeiam. Eu sou um homem solitário que resolve problemas. As pessoas me procuram quando querem tirar alguma dúvida ou quando algo deu errado, e é bom ser lembrado como alguém eficiente ou capaz mas, ao mesmo tempo, eu não sou uma companhia agradável, visto que nas resenhas e nos momentos de confraternização eu sempre sou deixado de lado.

E isso machuca ainda mais quando vejo que, em determinados lugares, eu dou tanto de mim, me esforço tanto para evitar que as pessoas consigam se estressem demais ou que tenham desconfortos desnecessários, sempre dando tudo de mim, sempre buscando ser o mais eficiente possível, resolvendo o mais rápido possível mas, quando a tempestade passa, eu sou o primeiro a ser abandonado.

Então retorno para casa como ontem à noite, cansado, na chuva, depois de receber abraços de agradecimento, mas também esquecido por todos assim que passei pelo alpendre. 

Como não recordar, uma vez mais, das palavras do profeta Jeremias? 

Banhadas ´stão suas faces,
Corre o pranto a noite toda,
Daqueles que a amavam,
Já ninguém mais a consola;
Dos seus amigos traída,
São inimigos agora.

É assim que me sinto... Sempre e sempre, de todos os que cercavam só me restou a solidão, a pantera de que falava o poeta, a ingratidão a devorar a minha carne. Admito que foi uma das noites mais dolorosas que me lembro, e fui dormir sozinho, com essa angústia a me esmagar a alma saturada de males, afinal já ninguém mais a consola...

Onde é que há, afinal, companhia no mundo? 

Nenhum comentário:

Postar um comentário