quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Uma tristeza sempre antiga e sempre nova

 "Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia." (Saramago)

Tentei estudar um pouco mas, em casa com esse calor todo, é quase impossível. Sinto muito mas o capítulo sobre Leucipo de Mileto vai ter de ficar para depois.

Não sei dizer por qual razão eu, dentre todas as pessoas, fui escolhido para amar, e amar tanto assim, amar tanto a ponto de doer e me machucar tanto, amar a ponto de cada fibra do meu ser se contorcer. 

E por mais que diga que me ama, que nossa relação é mais forte e mais importante que um namoro, ainda há essa parte em mim que grita, como fera maltratada, de dor por ver o meu amor ser aprisionado assim. Sim aprisionando, porque como Santa Terezinha canto que "meu ardente coração quer dar-se sem cessar, ele precisa demonstrar, essa ternurar. Ah! Quem há de comprender meu amor, quem poderá me corresponder?"

Parece que continuo na busca incessável, o que não é verdade, eu já há muito havia desistido. Mas o que acontece é que esse meu coração, de carne e sangue, pulsa e sangra todos os dias, e faz-se suspirar, faz-se chorar, por não ter, nessa terra infeliz, a quem se dar.

E me irrita pintarem o amor como algo belo assim. O amor não é assim. É uma praga, serve apenas para que nos humilhemos uns aos outros. O amor é essa ideia maldita de que as pessoas se apoiariam, que dividiriam suas vidas, que caminhariam juntas. Mas o amor é uma escolha, e sempre escolhemos o caminho que nos faz sofrer.

Anos atrás um aluno se aproximou de mim, e talvez só quisesse nota fácil sem esforço, e logo surgiram boatos de que estávamos juntos, e então ele se afastou, mas me lembro bem das últimas palavras dele quando me disse o quanto doía fazer aquilo porque seu pai jamais poderia ouvir um boato como aquele. Essa semana vi fotos do seu casamento. Não fora feliz naquela época, tampouco o vi feliz naquelas fotos, e eu? Bem, não digo que o faria feliz, de modo algum, mas observo, como se a isso tivesse sido condenado, a ver e presenciar os amores destruirem as pessoas, uma a uma. 

E com esse mesmo pessimismo também exergo que, vez após vez entreguei meu coração e o recebi de volta em frangalhos, senão que não aconteceu dessa vez porque não havia mais nada a devolver. O meu coração foi arrancado de mim, sobrando apenas a dor de cada artéria, de cada veia que foi arrancada, destroçando o meu corpo de dentro para fora, fazendo com que a minha casca, o que restou do homem que um dia era todo amor, agora seja apenas uma cabaça vazia, ruindo lentamente como as pedras antigas de um castelo em ruínas.

O amor é a maior da todas as mentiras, eternizado em séculos de literatura que falam dele justamente porque seus autores não o encontraram na vida real. O amor é maldição que não poupa quem nela acredita, o amor é uma doença que consome pouco a pouco, destruindo tudo o que o amante acredita. O amor, se não correspondido, não é uma bênção, é maldição, doença até a morte. 

Ser a pessoa que os outros se lembram apenas quando precisam é uma coisa que dói pra caralho. Eu sou sempre o especialista, mas não o amigo, nunca o amor. 

Assim eu fui dormir na noite passada. Revirando de um lado pro outro, o ar quente do ventilador disparado contra mim tentando vencer o ar abafado ao meu redor. Eu odeio o verão, como odeio saber que ele não sente o mesmo por mim, e como odeio saber que a vida continua, a dele, a minha, e a de todos os idiotas ao meu redor, tudo continua, e nada importa.

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