quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

São Valentim e cinzas

É Valentine's Day e, para onde quer que eu olhe há corações, rosas, declarações e sorrisos apaixonados.Sim, eu sei que é uma bobagem sem tamanho mas eu vou ignorar todas as milhares de postagens nas redes sociais sobre esse dia. Eu sei que é só um dia que eu poderia viver como qualquer outro, sei disso. Mas também não posso fingir que não estou vendo todas aquelas declarações de amor, todas as fotos de casais apaixonados, ou todas as composições daqueles atores e modelos com fundos cor de rosa e corações espalhados pelo corpo. 

É Valentine's Day, e ele provavelmente vai fazer tudo isso por alguma mulher num futuro não muito distante.

Assim como poucos dias atrás todos estavam de vermelho em comemoração ao Ano Novo Chinês hoje o rosa pulula por toda a parte, assim como as rosas, chocolates mãos dadas... Esses símbolos, ainda que superficiais, artificiais, encontram em mim um eco poderoso, porque encotnro neles tudo aquilo que, de algum modo busco em mim e não encontro.

Todos eles são como um lembrete, perfeito e bem produzido, de que não tenho a ninguém, de que estou sozinho, caminhando nessa cidade que, depois de dias de calor intenso, resolveu chover. Então há essas imagens de beleza ímpar ao mesmo tempo que há essa sensação de absoluta solidão, seja no caminhar, seja no olhar o horizonte. Há sempre a sensação de um vazio que me acompanha, que me consome, que me entristece mesmo quando, penso eu, nada mais poderia me entristecer. Mas isso não é verdade, continuo triste e, em dias assim, ainda mais triste. Em dias assim o vazo parece gritar por mim, e de sua escuridão surgem tentáculos que me forçam a olhar para o vazio infinito que há em mim mesmo. E ele é aterrorizante. 

Não é como se eu tivesse medo do que há em mim, fiquei há tanto sozinho que me tornei minha única companhia real, tive de me acostumar. Não há, em mim, um espaço que eu evite ver, porque sou obrigado a vê-lo todo momento e, a todo momento, enfrentar meus monstros interiores. 

E o que então eu vejo que tanto me incomoda? Vejo uma tristeza tremenda, uma angústia profunda e solitária, algo que vai, me consumindo, mas que parece sempre deixar uma nova parte para poder machucar mais e mais, num ciclo sem fim; 

É Valentine's Day, e os casais felizes publicam suas fotos apaixonados, mas no calendário litúrgico é Quarta-Feira de cinzas, e é assim que me sinto: como alguém que voltou ao pó. Enquanto as músicas que tocam são românticas, meu peito entoa o Dies Irae, implorando, supplicanti parce, Deus.

Queria até poder uma análise mais aprofundada disso, queria mesmo, mas não me encontro em condições. Prostrado de tristeza eu só posso olhar a chuva que cai, sentir o perfume do café e esconder as lágrimas do meu coração.

É Valentine's Day, mas eu estou sozinho respondendo à perguntas difíceis e fazendo coisas que ninguém mais quer fazer. 

Sozinho. 

Como sempre foi. 

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