sábado, 24 de fevereiro de 2024

Meu ofício solitário

Já há alguns dias eu vinha pensando, ainda bastante cambaleante, em me confessar. Considerando que já faz mais de uma Páscoa que eu não me aproximo da comunhão, aliás desde poucas semanas depois que me mudei para cá, e as crescentes responsabilidades na paróquia começaram a fazer pesar algo que só pode ser tranquilizado com os sacramentos frequentes, e eu sentia essa falta, como se constantemente ao meditar sobre os mistérios divinos eu não tivesse a substância sobre a qual eu estava meditando. E de fato não tinha.

Claro que após tanto tempo eu não sei se terei forças para aguentar muito mais, especialmente com meu atual estado maníaco-depressivo que me faz oscilar tanto. 

O que me fez tomar essa decisão com um pouco mais de firmeza foi justamente o santo altar, do qual eu tanto falo e com tanto carinho. Ao me aproximar dele eu sentia não só a indignidade intrínseca ao homem caído, mas uma distância ainda maior pelo meu próprio pecado. E as necessidades pastorais parecem sempre surgir de modo a me aproximar novamente desse altar. Olhando então as páginas do Missal senti que precisava realmente me aproximar Dele de modo mais total, tanto quanto me fosse possível naquele momento. 

X

Não muitos dias depois voltei ao mesmo estado de antes. Percebi, caminhando sob o sol quente, como os Lamentos de Jeremias, do povo de Israel em seu exílio, se aplicam também a alma que se afastou de Deus em seu pecado, íntimo, silencioso e solitário. Uma vez mais eu me uni ao antigo profeta num adagio lamentoso:

Zela tão bem no castigo
Que a eles vais aplicar,
Como soubeste punir-me
Por todo este pecar;
Sem conta são meus gemidos,
Meu coração a parar...

Nenhum comentário:

Postar um comentário