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Gustave Caillebotte |
"Já lhe aconteceu, algumas vezes, encontrar num livro uma ideia vaga que se teve, alguma imagem embaciada que volta de longe e que parece a completa exposição de seu mais sutil sentimento?" (Gustave Flaubert)
Me sentindo um idiota por ter reagido daquela forma, por ter me deixado abalar tanto, por ter caído num dia que deveria descansar, por ter deixado a minha mente me dominar dessa maneira e me levar aos círculos mais profundos do inferno. Me sentindo leve por esse peso ter sido retirado das minhas costas, mas agora sinto como se tivesse carregado tudo por nada. E assim, simples como um bipe ou um aceno, tudo acabou...
E agora, no dia seguinte, com o corpo dolorido, de toda aquela tensão nos últimos três dias, eu vejo o peso que colocaram sob minhas costas. No entanto, olhando o horizonte, não vislumbro melhora. Não sei como poderia sair dessa situação. Devo pedir demissão? E com que forças eu vou procurar outro emprego? E se o outro for ainda pior, com chefes ainda mais idiotas e incompreensíveis? Mas e se for melhor? E se tudo isso for apenas fraqueza minha, afinal não é a primeira vez que uma situação me deixa doente.
Acredito que estou de frente com um problema e, como ensinou o Prof. Olavo, problemas não se resolvem como se acredita: por meio do pensamento e análise até alcançar uma resolução. Apenas verdadeiros gênios fazem isso, e mesmo eles uma ou duas vezes na vida. Problemas se resolvem por uma alteração do quadro geral das coisas, uma modificação tal da situação que independe do homem. Em verdade aquilo que conseguimos controlar é pouco, quase nada, em relação a tudo aquilo que nos vem de fora e que, não raras vezes, nos esmaga completamente.
Por isso me pergunto se não seria o caso de assumir uma postura diferente, uma transformadora e, até mesmo combativa. Uma postura mais firme, que não apenas receba a lide com aquilo que se vem contra mim. Mas também não estou certo disso. Uma transformação da atitude ou de toda a situação, como quando vim pra Joinville? Mas, embora eu nunca tivesse essa esperança, vir pro Sul mudou completamente a minha vida, e cá estou eu, pouco mais de dois anos depois, mergulhado em desesperança novamente, numa tristeza e aflição profunda. O que me indica que essa melancolia não é reacional, não é uma resposta ao meio, é algo inerente ao meu ser, não sendo então algo que possa ser resolvido, sendo não um traço, mas algo essencial, algo tão profundamente arraigado em mim que não se pode dissociar meu eu da tristeza que sinto.
Devo fugir? Enfrentar? Como fugir e como enfrentar? Como mudar o quadro geral das coisas, como resolver o problema? Como entender o problema? São questões demais, e o tempo lá fora combina um dia nublado e abafado, quer fazer sair o sol ao mesmo tempo que chove torrencialmente. Também não se decide, se perde nessa dualidade que há em meu peito.
"Ó vós outros, quem quer que sejais, rústicos deuses, que nesta desconversável paragem habitais, ouvi as queixas de tão desditoso amante, a quem uma longa ausência e uns fantasiados zelos hão trazido a lamentar-se nestas asperezas, e a queixar-se da dura condição daquela ingrata e bela, fim e remate de toda a humana formosura." (Miguel de Cervantes)
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