terça-feira, 12 de novembro de 2024

O que vejo

Foi preciso que eu me obrigasse, a ficar um pouco mais acordado, pouco mais de três horas. Meu corpo inteiro dói e cada fibra do meu ser quer dormir, apagar. Parece que, além da dependência aos remédios, eu também me apeguei a fuga que é esse sono dos fins de semana. Algo poderia ser dito sobre a desumana exploração do trabalho, mas não quero. É domingo e eu quero descansar. Então só vou falar dessa profunda necessidade que tenho de voltar a dormir, não ser, não existir ao menos por algumas horas, breves momentos de silêncio e escuridão profunda, longe do mundo e das verdades da realidade. 

Os próximos dias, até o 23 desse mês, serão de um esforço tremendo, e meu corpo já reclama não conseguir cumprir essa missão que, no entanto, não é uma escolha. Como disse alguns dias atrás, eu preciso aguentar, mesmo já não aguentando mais. E ninguém liga. Mas não importa.

Encontrei um show especial, Boy Sompob - Boys' Love First Live Concert in Bangkok 2024, com alguns dos atores das minhas séries favoritas cantando as músicas que, nos últimos 10 anos, têm feito parte dos meus dias. E estou emocionado com isso. 

Assim como ontem e hoje me emocionei ao rever alguns filmes de Star Wars e, deixando um pouco de lado aquela visão que tinha quando criança, vejo agora a quantidade de questões envolvendo essas produções, os interesses e, o que acaba por aparecer no final, uma mensagem que não pode se apagada. Não tenho capacidade para explicar a coisa toda em detalhes, embora saiba que possa fazer uma boa introdução a isso, mas como, na última trilogia, tentaram desfazer a chamada "jornada do herói" na construção de um mundo sob os escombros de outro construído com base nesses valores. Não deu certo e, no fim, o que salvou tudo, foi um retorno total a Jornada do Herói que, em última instância, é uma repetição do chamado dos Apóstolos, é uma continuação daquele chamado, modificado e transmutado em outras situações que, em essência, ainda guardam a força daquele chamado, o chamado por excelência. 

Chamado. Parece que, de algum modo, todos o somos, e a resposta para a objeção de que se todos são igualmente chamados é porque o chamado não é especial é porque, em verdade, o aspecto extraordinário desse depende pouco de quem é chamado, mas de quem chama, que é quem guia e que leva quem aceita até o seu objetivo. A quem é chamado é esperado o sim e a abertura ao moldar do mestre. Por isso, alguém que parece ter vindo de "lugar nenhum" pode tornar-se a pessoa mais importante do universo, carregando consigo as gerações daqueles que vieram antes dele. Enfim, devaneios.

O chamado ao amor aqui, no entanto, me parece um chamado falso, sendo que seu fim é a decepção, a derrota e a solidão. O amor é como a busca por poder, que consome e destrói aqueles que o perseguem, tornando-o coisas, não mais homens, mas arremedos, falseabilidades, marionetes de seus desejos mais profundos e pervertidos. O amor é tão ruim quanto a ganância ou a inveja. É um desejo destrutivo.

E por isso venho trabalhando em silêncio.

Ainda tenho lapsos do meu passado, recente e tão vibrante, de quem fazia tudo por amor. Mas agora, busco apenas a seriedade, afinal, não é isso que você também quer? 

Claro que isso significa o erguimento, de uma vez por todas, de uma muralha de cristal entre nós, invisível, porém intransponível. Algo mudou, se quebrou, de modo irreparável. E você sabe disso, só finge não saber. Escolhas e medos. Somos escravos de suas consequências. E eu, em particular, escravo de meus desejos, desse meu amor. 

Por isso mantenho a conversa séria, você não quer contato com nada que não seja sumamente elevado, justamente por ter dificuldade em se aproximar dessas coisas, então culpa os outros por não seguirem sua moral maculada de kantismo. Não percebe que todos somos homens, falhos, fracos, e por isso mesmo é que nos foi dado o perdão. Mas tudo bem, a sua escolha me afastou, e como todos os outros que vieram antes de você, eu respeito isso. 

Preciso parar por aqui. Amanhã começa tudo de novo, e não tenho nenhum amor que me possa consolar. Com reuniões e ideias toscas que eu vou precisar seguir. Vou dormir, de novo, em silêncio, tendo em mente que, isso que faço, esse tipo de condenação autoinfligida é, na realidade, aquela a qual ele sempre me condenou: o silêncio.

É realidade demais, você acha graça. E talvez acha graça de mim também, afinal sempre riu todas às vezes que eu dizia o quanto te amava. A realidade do meu amor é uma piada, eu sei. No entanto, essa realidade brutal e miserável é tudo que eu vejo. Vejo em silêncio, pois me tornei alma silenciosa e descontente.

"Não é de amor que careço.

Sofro apenas
da memória de ter amado. 

O que mais me dói,
porém
é a condenação
de um verbo sem futuro.

Amar."

(Mia Couto)

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