"Pois quem não tiver para si dois terços de seu dia é um escravo, seja ele quem for." (Nietzsche)
Dia de ira.
Cada um tem como coisas importantes aquilo que, no seu coração, lhe desperta algo. Não é de hoje que as séries são algo que eu amo e uma das pouquíssimas coisas que me dão alegria. Poder acompanhar as histórias, poder me emocionar, como foi nas ultimas semanas com Kidnap, ou sorrir, como tem sido com Caged Again, ou simplesmente poder me surpreender e inspirar com a beleza genuína, como fiz com Every You, Every Me, me sentindo bem ao ver o Mick e o Top depois de acompanhar a produção por tanto tempo, ou ainda só sentir o coração quentinho ao poder ver, finalmente, os ThomasKong em Your Sky, depois de tantos vídeos virais no TikTok. Esse mundo das séries é o meu mundo, é o meu descanso depois dos dias cheios, dos incômodos, dos idiotas.
E então, no dia mais importante de todos, eu tenho que acordar cedo e tomar um ônibus, e vir trabalhar, e ouvir as sandices de um velho crítico de arte que ninguém lê. Nesse dia, eu refleti sobre o que tenho feito. Sobre o que tem sido minha vida.
Trabalhamos para conseguir viver. Mas, se nem o mínimo eu consigo, qual o sentido de fazer tudo isso? Qual o sentido de deixar minha carne ser esmagada assim?
Volto aquele tema: eu não pedi por uma coisa grandiosa: eu não desejava ter ido pra Tailândia por uma semana pra assistir aos anúncios do próximo ano. Eu não pedi ao universo pra ir num dos três shows que aconteceram no Brasil nas últimas semanas. Eu só queria poder assistir, da minha casa, tomando um chocolate quente e ficando feliz pelos anúncios feitos.
Só isso.
Mas até isso me foi privado.
Percebo agora o quanto eu sou escravo. Porque os outros, todos podem adoecer, todos podem viajar, todos podem ter sua larga cota de passatempos e chamar isso de trabalho. Podem mandar, aparecer para tirar algumas fotos e ir embora quando o vinho acaba.
Eu preciso sacrificar até essas minhas pequenas alegrias. Irrelevantes a todos, importantes apenas pra mim. Eu não posso viver. Preciso sempre chegar em casa tão cansado que não aguento nada além de ir imediatamente pra cama. Preciso ficar até o fim, apagar as luzes, abaixar o som.
É sempre esse inferno. Ninguém liga se você tem algo pra fazer, uma vida ou outro interesse, ninguém se importa. É sempre essa porcaria de vida, sugando cada pequena alegria, até que não sobre nada. Somos brinquedos, fantoches nas mãos de deuses. E a vida faz questão de foder cada um de nós, até que não sobre nenhuma vontade, nenhuma força. Até que sejamos apenas cascas vazias e mecânicas cumprindo missões.
Cá estou eu, fazendo parte da lixeira da miséria humana. Perdido entre as festas e os sorrisos de pessoas completamente vazias, e a mercê do julgamento dessas mesmas pessoas. A minha vida está em suas mãos, e elas fazem o que quiserem de mim.
É um inferno, um ciclo interminável, e todos não passam de lixo: eles que mandam e eu que obedeço, todos lixo, e nada mais!
Quisera eu poder expressar nessas palavras o desprezo que sinto por eles me controlando assim, por saber que eu não tenho nenhum poder sobre minha própria vida, que sou escravo, que sou apenas um sem vontade.
Talvez tenham eles percebido que eu sou um grande vazio, e por isso queiram se aproveitar. Ou talvez nem sequer me reconheçam como humano também.
De fato hoje não sou mais homem. Se olho no espelho vejo apenas um reflexo triste, e nada mais.
"O trabalho estava me dando nos nervos. Seis anos, e não tinha um centavo no banco. Era assim que pegavam a gente - só davam o bastante para a gente se manter vivo, mas nunca para acabar se escapando." (Charles Bukowski)
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