Achei aquela cena curiosamente adorável, ele agitava os pés sentado num banco claramente alto demais para nós. Parecia uma criança, e de fato fiquei reparando, enquanto conversávamos, nas espinhas vermelhas no rosto, misturadas com a barba por fazer, denunciando hormônios da juventude, a voz fina, mas os pelos dos braços mais grossos que os meus, é uma idade engraçada.
Mas não teve nenhuma faísca, apenas achei fofo. Peguei o ônibus e segui o meu caminho. Vi fotos dele e a namorada, o vi mandando mensagens fofas e declarações públicas. Meses atrás eu teria ficado chateado, eu só olhei para cima e vi o céu despejar em chuva. Um dia lindo.
Uma amiga minha disse que, desde que me conhece, eu reclamo de ser alguém que não tem sonhos ou aspirações, de modo que não fico em busca de algo assim. Realmente, nunca fui alguém que esperava muito da vida, mas, quando atualmente digo que não estou com vontade de fazer nada, eu estou me referindo até as coisas simples que antes eu gostava de fazer, como ouvir música e beber na sacada. Nada mais tem graça. E não é culpa de algum episódio depressivo. Quando estou eufórico as coisas continuam sem graça, apáticas.
Acho que talvez, com a idade, eu venha mesmo perdendo a capacidade de ver algo de bom até nas coisas simples da vida. Se antes eu achava as grandes aspirações uma droga, agora, os pequenos prazeres da vida parecem carregados do mesmo desinteresse que todo o resto. É tudo chato, todos são chatos. Eu sou insuportavelmente chato.
Eu gosto de prestar atenção nos olhares. Eles são importantes pra mim. Me recordei dos olhares dos protagonistas de The On1y One, e como quase tudo entre eles era dito dessa forma. Não sei se todos observam os olhos assim.
Temos opiniões diferentes sobre olhares. Sobre Pokémons. Eu acho que pelúcia de Pokémon é presente de casal. Canecas também, mas acabaram quebrando minha caneca favorita (isso não é uma analogia poética, realmente quebraram. Mas tem lá sua dose de poesia também).
Eu juro que eu queria te entender, e às vezes, eu acho que entendo e às vezes não, mas de todo modo parece que eu sempre vou ficando mais consciente da distância que há entre nós. É como se fôssemos de mundo diferentes, polos diferentes que, de algum modo, orbitam ao redor um do outro sem jamais se tocar, mas também sem se repelirem completamente. De algum modo nos entendemos, mas me parece ser na superfície. Acho que é porque, naquilo que é mais essencial e profundo, isto é, nos sentimentos, não podemos nos entender. Nós nos amamos, mas eu não consigo mais acreditar no amor como antes e você não vê o amor como eu vejo.
Acabei voltando a esse assunto. Me distraí enquanto ficava sem ideias pra escrever, olhei pras flores lá fora, e meu chá esfriou. Tomei tudo mesmo assim.
"Não haveria segurança? Não se poderia aprender de cor os caminhos da vida? Nenhum guia, nenhum abrigo, mas tudo milagre e um salto no vazio do alto de uma torre?" (Virgínia Woolf)
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