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Every You, Every Me |
O último dia. Sol que brilha, em verdade arde, nas folhas como esmeraldas iluminadas no corpo de alguma musa. Amanhã cessará o silêncio, o descanso do corpo. Em verdade, meu corpo está em dor já desde ontem, quando a ansiedade tomou conta de tudo. E me deitei, e sentia meus músculos se repuxarem, as articulações se condoerem, mostrando no corpo o que na alma havia se quebrado: o equilíbrio frágil da vida humana.
Pensei um pouco, sobre a linguagem, tema do meu próximo texto, que só publicarei amanhã para não quebrar a ordem dos textos escritos durante os dias em que fiquei afastado do trabalho devido ao atestado do psiquiatra, mero capricho de um escritor lido por dois ou três amigos.
Voltando à linguagem, fui dormir impressionado com as atuações de Mick Monthon e Top Piyawat. O plot sobre comunicação me rendeu uns bons gatilhos. Quantas vezes eu disse algo com toda a sinceridade que me era possível e, o outro lado não entendeu, assim como eles repetiam um ao outro, de um lado com sinceridade de coração e do outro, a vontade de acreditar, mas a dor criando um muro entre eles. Quantas vezes declarar o meu amor, com todas as palavras que me eram possíveis, de todas as formas que poderia, de nada adiantaram. Meu amor de nada adiantou. Minhas palavras foram todas em vão.
O canto forte dos pássaros aqui do lado de fora, o brilho das folhas, as flores exuberantes do nosso jardim e da vizinha, tudo canta as maravilhas de Deus, e ainda assim parece que ninguém percebe. Por qual razão então entenderiam as palavras limitadas?
De nada adianta, de nada adianta.
No fim, só queria que conseguisse ver o brilho nos meus olhos quando pensava em você. Mas nem isso existe mais. O brilho se apagou. Todos os apaixonados foram dormir, e eu vou segui-los em sacra procissão, entoando preces de que seja perdoado, não por amar a um homem, mas por não me amar, por me odiar, por tantas vezes desejar que nem mesmo existisse.
Uma manutenção sem planejamento deixou a cidade inteira sem água, mesmo com um calor insuportável e sabendo que a maior parte da população trabalha de forma braçal. Amanhã inclusive eu preciso voltar, mesmo sem querer. O vento sopra frio, a temperatura vai cair, sinto saudades do inverno.
Mais uma tarde e uma noite. O último dia.
"Decorrera tanto tempo que havia desistido de aplicar sua vida a um objetivo ideal e limitava-a a perseguir satisfações do dia a dia, que julgava, sem nunca o afirmar formalmente, que aquilo não se modificaria até sua morte; ainda mais, já não sentindo ideias elevadas no espírito, deixara de crer na realidade delas, sem todavia não poder negá-las de todo." (Marcel Proust)
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