segunda-feira, 10 de março de 2025

Aqueles olhos

Aqueles olhos contemplam o mundo 
como se tudo fosse a primeira vez, 
com curiosidade imensa. 

Eles brilham, vibram, estão vivos
descobrindo tudo,
os livros nas estantes, os vasos nas sacadas

Olham o céu sem entender as cores
olham as mãos com cuidado e os arredores
as panelas e a vó fazendo um bolo

Outros olhos aqueles vislumbram o mesmo mundo
turvado por um olhar que já teve amores
mas que agora entope-se de comprimidos

Cansado das infâmias nossas de cada dia
turvado por um coração infecundo
que há de dormir panteísticamente dissolvido

O não ser encanta aquele ancestral
que escreveu com sangue sua tragédia
e com lágrimas fecundou o jardim de sua sepultura.

10 de março de 2025

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