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"Red Haired Man on a Chair", Lucian Freud |
Sem analogias climáticas hoje, apenas uma grande estafa social, uma enorme vontade de ficar em casa fazendo absolutamente nada, mas, principalmente, sem ver ninguém. Isso justamente no fim de semana em que eu mais vou precisar ver gente. Todo mundo deveria ter o direito de desaparecer por alguns dias sem se explicar de modo algum,
eu faria isso hoje,
e amanhã.
Agora, sim, me veio vontade de assistir, mas não posso virar essa noite, vai ficar para depois, e espero que depois eu ainda tenha disposição, o que é uma parte que falta em mim.
Diante de um grupo, que nem mesmo é um grande grupo, nem próximo de uma multidão, eu só consigo estar consciente da minha própria individualidade. Como um idiota que só presta atenção no próprio umbigo. Irreparável e estupidamente solitário.
E é isso.
Não consigo sorrir como eles, me entrosar como eles, brincar como eles. Parece que não estamos na mesma página, ou no mesmo planeta. Até posso ficar alegre ou sorrir, mas não é mesma coisa. Eles estão sempre lá.
Eu sempre aqui.
Ele me chamou a atenção de novo, e não foi bela beleza do seu rosto e nem do seu corpo, como fez de manhã quando levantou a camiseta, não, foi pelo imenso carinho com que ele olhava o crucifixo, como quem olha para alguém que ama muito. Não tenho como julgar isso, mas, se não é algo próximo de uma experiência mística, é, ao menos, uma importante tomada de consciência, uma daquelas viradas das mais importantes na vida de um homem: a descoberta da cruz.
Não me importei com aqueles duzentos olhares que poderiam nos ver, não somos importantes assim, mesmo que estivéssemos bem na frente. Ele chorava copiosamente, rosto vermelho lavado em lágrimas, então o puxei para mim, o envolvi em meus braços e senti sua respiração arfada, e ele chorou ainda mais. Apoiei minhas mãos em suas costas, e queria dizer com aquele toque que, sempre que precisar, meus ombros estão à disposição se ele precisar chorar.
Espero não acordar ninguém, mas tem uma leve brisa entrando pela porta ao meu lado. São quase três da manhã e estou ouvindo 10cm e Kim Sung Kyu, mas não consigo definir exatamente o clima da noite. Acho que fiz isso tudo porque queria ficar ao lado dele, ou só ao lado de alguém, isso me parece mais correto. Talvez o clima seja o do vazio de perceber que de nada adiantou, no fim, ele foi atrás de outra, como todos os outros. É, talvez seja isso.
Solidão,
e nada.
"Enquanto uma chora, outra ri; é a lei do mundo, meu rico senhor; é a perfeição universal. Tudo chorando seria monótono, tudo rindo cansativo; mas uma boa distribuição de lágrimas e polcas, soluços e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária, e faz-se o equilíbrio da vida." (Machado de Assis)
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