sexta-feira, 21 de março de 2025

Olhar de Ligação e Olhar Nenhum

"Aqui, olhe para mim. Qual o seu nome? 

Respire. 
Devagar.
 Você está respirando errado. 

Devagar. 
Aqui..."

(Top Form The Series)

Controlar as emoções não é uma tarefa fácil, nunca foi. Controlar emoções que não são suas, imagino que deva ser ainda pior. 

Ou não. 

O fato é que aquele veterano conseguiu, por meio do olhar e da respiração, controlar as emoções do mais jovem, sem perceber ele mesmo, que ao fazer aquilo, ao sincronizarem suas respirações, tocava profundamente seu coração, criando entre eles um vínculo que só mais tarde ele perceberia. Ali estava traçado seus destinos, ligados por algo tão forte que não pode ser chamado de emoção.

Os olhos de ambos carregados de lágrimas, pesadas, que desceram marcando uma linha fina, dourada, que brilhava com o sol que já se aproximava do poente. Essa linha, ao descer, apontava para o coração de cada um, indicando de que natureza era aquele sentimento de ouro. Depois daquilo nada mais seria igual. 

Um homem que há anos vivia sem viver, interpretando, sorrindo, fotografando, mas sem permitir que ninguém visse que ele era de verdade. Ninguém via ele fazendo skincare, pois os primeiros sinais da idade já começavam a surgir, ou ele comendo pudim de chocolate como se fosse a principal refeição do dia. E outro que tinha um ar e um olhar apático, para ele tudo sempre estava bem, qualquer coisa servia, qualquer trabalho, e fora parar ali assim, porque o mundo o levou, não buscara a atenção da mídia. Apenas chegou ali. 

Mas agora, olhando fixamente aquele homem, finalmente seus olhos se acenderam, uma chama surgiu, tão brilhante quanto aquele sol poente que lhes beijava a face, deixando aquele que estava à sua frente, como se fosse um deus, envolto num halo de luz, enquanto as lágrimas pesadas caíam. 

Essa visão de tantas emoções, dessa ligação tão forte me fez numa série de coisas que venho descobrindo nesse período de pausa também. Por exemplo, a quantidade de problemas que fui acumulando, eu passei a funcionar pela mera aglutinação deles, sem conseguir mais separar uma coisa da outra.

O cansaço, generalizado do burnout, por exemplo, eu já não conseguia distinguir um dia cansativo porque tinha feito muita coisa e um dia que tinha saído com amigos e me divertido e, por isso, estava cansado. Cansaços diferentes, mas é como se tudo fosse o mesmo, eu só estava simplesmente cansado. 

Quantas e quantas vezes eu deixava a barba crescer por preguiça, cansaço extremo, e parava de me cuidar, ou perdia o interesse em coisas que amava. Com que tristeza eu percebi que já tinha entrado no automatismo ao ver séries, algo que eu amo, que é meu momento de conexão com outro mundo, em que posso esquecer, mas que se tornou apenas uma obrigação. Eu fiz disso uma obrigação como os contatos que precisava fazer diariamente, como as satisfações que precisava dar aos idiotas. 

Tenho prestado atenção no meu corpo, no quanto o machuquei tomando café e chá-verde para ficar acordado e ter bom rendimento e, ao chegar em casa, desabava em cansaço. Prioridades invertidas. E eu continuava gastando, em remédios naturais, em cápsulas de café, óleos essenciais e livros, achando que isso ia me fazer sentir melhor, mas não fazia. E as outras pessoas, que trabalhavam tanto ou mais do que eu, continuavam conseguindo viajar aos fins de semana, ir ao cinema, cafés, e chegavam bem. Então por qual razão só eu estava assim, tão exausto sempre?

E ainda tentaram colocar a culpa em mim, sempre. "Você não faz exercícios o suficiente, você não come direito". Raça de víboras! Como se eu tivesse tempo fazendo sozinho o que três deveriam fazer, resolvendo problemas que não eram meus, ou melhor, resolvendo não-problemas inventados pelas mentes mais burras que já conheci e que diziam, com um sorriso amarelo, que queriam que eu fizesse isso para sempre. Era, na verdade, um sorriso de quem desejava ver minhas forças consumidas em nome de seus excessos. 

E agora, afastado por incapacidade, nem mesmo um olhar de desprezo. A utilidade se foi não é? Nesse tempo tento seguir o conselho do poeta e dormir, já que perdi os amigos, não tentei nenhuma viagem e nem tenho terra, carro ou navio.

"Teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa
[...] não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas"

(E. E. Cummings)

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