"Na sua vida, o pêndulo vai ininterruptamente de lá para cá, entre a exuberância e a melancolia." (Thomas Mann)
Nostalgia. Uma memória afetiva desperta por uma música. Anos que retornam em imagens, manhãs de um sol forte e ar seco, muros altos e dias intermináveis em que minha única alegria eram as séries de toda noite, dentre essas numerosas me lembro a alegria que foi ver o cover de Just Being Friendly, do Tilly Birds com a MILLI, feito pelos meninos de My School President, especial Fourth Nattawat e Ford Alan, e como essa música sempre esteve presente nas minhas playlists desde então.
Eram tempos complicados, eu estava mergulhado numa melancolia profunda, então muitas vezes eu a ouvi sob efeito de remédios para dormir, nos piores dias que já vivi, em que não queria nem mesmo sair da cama ou abrir os olhos, mas ainda gostava da música.
Recuando ainda mais no tempo, tenho revisto Twelve Kingdoms, sempre durante a noite. Me lembro, a cada fim de episódio, quando toca a música de encerramento, daqueles inícios de manhã, quando ainda estava no ensino médio e acordava cedinho, terminava de ver o episódio e começava Nodame Cantabile, ou Getbackers, no finado Animax, que penso ter sido uma das maiores perdas para a cultura nipo brasileira dos últimos anos. A música tem me dado essa nostalgia nos últimos dias, e acredito que termino a temporada hoje em algum momento da madrugada.
Nostalgia. Momentos tão diferentes, um de depressão profunda e outro em que eu nem sabia direito o que era isso, mas que, em retrospecto, vejo alguns sinais que já estavam lá. Contrariedades também na própria nostalgia. Embora o momento evocado pela música do Tilly Birds seja ruim, a música, o cover, a série e os atores ainda são meus favoritos e contam entre os momentos mais felizes em meio aquela escuridão. E assim eu vou percebendo essas coisas, uma música tocando despertando tantos sentimentos, como a lembrança da depressão mesclada com a mais genuína alegria, simples, de jovens cantando sobre o amor...
Essa é uma das coisas sobre a vida, momentos felizes e tristes. O problema está quando o equilíbrio se perde, e tudo que conhecemos é a tristeza, ou ela começa a turvar os momentos felizes, a torná-los cada vez mais raros. Ou quando as alegrias tornam as pessoas toscas o bastante para não perceberem nada mais do que esses momentos, esvaziando-se completamente.
E então querem que nos curvemos diante deles. Quando nos curvamos o nosso orgulho é ferido, e somos subjugados. Depois de um tempo nos acostumamos com isso e, tão logo isso aconteça sem que nem nos demos conta, nos tornamos seus escravos.
Mas não nascemos para sermos escravos. Quando admiramos alguém, verdadeiramente, reverenciamos naturalmente, independente do cargo que essa pessoa ocupe. Muitas vezes ocorre de essas pessoas ocuparem altos cargos, como, por exemplo, Bento XVI, a quem eu me sentiria honrado de beijar os pés, indigno de lhe beijar o anel de pescador, e a quem um dia quero honrar, tornando-me conhecedor profundo de sua obra. Mas também podemos admirar aqueles que, no dia a dia suam para alimentar os filhos, como reverencio minha mãe e seu esforço para cuidar do meu sobrinho, donde vejo, ao pensar em Bento XVI, a pequenez de meu pensamento, e ao olhar para minha mãe, a minha debilidade em ajudar o outro, mesmo que o outro seja da minha família.
Escravos, da cobiça, da ganância, do orgulho que nos faz reverenciar. Das alegrias desmedidas, daquelas coisas tão passageiras e efêmeras que nem podemos dizer que existem de verdade, ao redor das quais muitos fazem todo o sentido de sua vida e que nos escravizam em nome delas.
Tudo isso enquanto ouvia essas músicas.
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