Iniciando a manhã do modo mais dramático possível, ouvindo as canções de morte da Sinfonia N° 14 de Shostakovich, tomando chá de oito ervas, aproveitando o início fresco do outono, antes da tarde mais quente. Hoje admito que vou dormir sem nenhuma razão. Eu sabia que isso acontecer. Já há muito sou um dependente desses remédios, e então isso acontece, eu só não quero. Torço para esquecerem do ensaio, torço para esquecerem até de mim, que eu aproveite essa leve brisa e o sol brilhante, em contraste com o azul-claro opaco do meu coração, e o mais que faço não vale nada!
I
Perdi o rumo completamente
como se acertado por um golpe forte
seco, no alto da cabeça
me derrubando a rolar em pedras
Dei-me conte do corpo cheio de dores
escoriações, sangue quente a escorrer de minha cabeça
e meu inimigo do alto do monte a encarar silenciosamente
e a minha visão turva, ouvindo o rio próximo gritar
O mesmo rio que tantas vezes me alegrou
com sua cor e seu correr alegre
agora me agitava o sangue ameaçadoramente
como se apenas o seu grito fosse me devorar
II
Choro de criança
dolorido
tão inocente quanto seu riso
mas carregado
E o homem
o que tem ainda dentro de si
algum coração a sangrar
chora junto sem cessar
Apieda-se
comove-se
inquieta-se
adquire ânsias de herói
A querer salvar
a frágil criança
e consolá-la em seus braços
acalmar de seus pesadelos
Mas ao homem
que tem ainda dentro de si
um coração a sangrar
o choro do inocente é esse sim, o pesadelo
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