domingo, 9 de março de 2025

Força

Acho que a forma que fazemos isso está errada. Vejo que frequentemente escolhemos alguém e, por algum motivo como a aparência ou a atenção que nos dão, então passamos a projetar nessa pessoa aquilo que esperamos de um ideal: uma parceria, uma amizade profunda, lealdade, intimidade, quando seria mais inteligente da nossa parte encontrar primeiramente a amizade e daí desenvolver a intimidade, mas., se colocamos essa parte em pauta, a ideia é prontamente rejeitada. 

O amor que vem da amizade, construído, que é como uma escada em que dois sobem até alcançar seu cimo, ele torna os dias comuns felizes, ele faz o trabalho ordinário feliz, porque tem um fim feliz: encontrar essa pessoa, que passou do ordinário ao extraordinário, que era mais uma dentre tantas, a única, a pessoa especial. Essa convivência, essa construção, ela se torna uma espécie de força, onde o homem consegue compreender o que realmente importa, o que, em virtude da eternidade, vale realmente a pena. 

Isso faz parte do amadurecimento, essa espécie de aquisição de força, quando o homem vai lapidando-se e deixando permanecer apenas o que realmente importa, passando por cima de todo o resto, toda a banalidade do ambiente ao redor o deixa de atingir. 

Olhando para minha própria biografia, eu vejo o quanto essa banalidade me destruiu, o quanto deixei que ela me afetasse e me deixasse assim, doente, depressivo. Eu me concentrei na aquisição da cultura filosófica, e não na força para seguir a vida advinda da cultura filosófica. Eu não entendi que mais vale ler apenas Platão por vários anos do que saber o nome de dezenas de filósofos. Eu devia me focar em ter ficado mais forte. Agora, fraco e doente, isso é tudo que eu posso fazer. 

Por isso tenho me concentrado nos escritos dos papas, na força dos grandes filósofos, para então, quem sabe, me reerguer e, quem o sabe também, caminhar com alguém. 

Meus planos incluíam beber e virar a noite assistindo, porém, conforme se aproximava a noite eu fui tomado pelo desânimo. Mesmo indo dormir tarde, só pude observar a noite, ainda mais quieta e silenciosa que de costume. Ou talvez o silêncio fosse porque essa constatação me deixou em estado de afetação, estupefato, em silêncio de quem não precisa dizer mais porque seria mais da mesma infantilidade, imprópria ao homem de estudos. Silêncio de quem contempla o horizonte e sabe que precisa ficar mais forte. 

Tudo em contraponto ao homem que sofre por garotos dez anos mais novos que ele, que ainda acredita em besteiras como o amor. Tudo isso é sombra de um homem que se sentou próximo à algumas árvores para sentir a brisa fresca e o perfume das frutas, mas que já não é mais visto ali, já não pode ser encontrado, já não existe mais.

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