Sem crença e sem amor, como um perdido
Na certeza cruel que nada importa.
(Vinícius de Moraes)
De novo aquele cansaço extenuante, dores abdominais que, em mim, são sinais de ansiedade grave. A cabeça dói e pesa de sono. Os últimos dias foram de muita tensão, como uma guerra sendo travada e várias outras em prenúncio. Mas já não consigo lidar com todas, no fim, só quero encostar a cabeça um pouco, queria também abraçar aquele corpo branco, nu, também a me abraçar e beijar e apertar aquele bumbum redondinho e gozar e enfim adormecer. Porém, esse corpo na realidade se encontra distante, fugidio, inalcançável.
Talvez eu também não exista.
Por isso acho que talvez nem eu mesmo exista. Aos poucos vou sentindo os limites da minha mente se dissiparem, como se eu me expandisse, mas não abarcando tudo, e sim desaparecendo, como uma lufada de fumaça que se dispersa até que não se veja mais nem mesmo os fios mais finos.
Só poderei dormir, numa cama que mais se parece com agrestes escarpados de tão vazia, ou melhor, sem a presença dele. Sem a presença de ninguém. Essa sensação, essa ausência, esse nada, cada dia mais familiar, mais marcada em mim do que essas tatuagens que trago ao peito, parece que também suga por algum buraco negro, toda força e toda vontade, deixando apenas menos do que metade, na frialdade de lágrimas melancólicas de soledade.
Em algum universo possível, bem distante daqui, passo lentamente os dedos pelo seu corpo nu, a luz do sol filtrada pela cortina branca ilumina todo o lugar, um santuário, ele, que minha mão toca preciosamente, meu grande tesouro. Mas só num universo muito longe daqui. Não no meu universo real, aqui.
Mas passa. E eu vou seguindo o meu caminho
Na tristeza sem fim de uma alma morta.
(Vinícius de Moraes)
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