domingo, 3 de março de 2019

A sonata do diabo

Basta que feche os olhos por um instante ou, menos ainda que isso, que me desligue momentaneamente da realidade para ouvir... Os suspiros maliciosos de um pequeno demônio que murmura para mim coisas maldosas. E com a minha própria voz ele me convence de tudo aquilo contra o qual eu luto diariamente. 

Ele me convence de minha pequenez, de minha patética existência, de minha completa incapacidade. Ele sussurra coisas que não gostaria de ver, e chama minha atenção para os espinhos das rosas que me cercam. Ele é o demônio que se compraz em me fazer triste, em olhar deprimido ao meu redor e me sentir inferior a todos os outros. Ele se alegra em me fazer crer que sou um estorvo, que minha presença não só é enfadonha e dispensável como é até mesmo desejosa que desapareça!

Como não há em meus ouvis voz que se contraponha a essa, ela aos poucos se decanta em meu coração, tornando turvas as águas que antes fluíam calmas e cristalinas. E ali ele continua, a destilar em mim o seu veneno, me fazendo ouvir as notas sinuosas de sua sonata diabólica. Por fim, quando se instala em mim o pavor pela existência, eu acordo do pesadelo que foi por ele manipulado, mas sem me lembrar de que tudo não passou de um sonho, ficando apenas em mim o gosto amargo de seu veneno.

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