Manhã, tão bonita manhã de carnaval... Na verdade já estamos no final da tarde, mas ainda me encontro de pijama, com os olhos desacostumados com a luz, como se ainda fosse manhã. Os compassos esparsos do Dexter Gordon me fazem permanecer sonolento. O dia foi basicamente uma grande soneca, da cama para o sofá e do sofá para a cama.
Na vida uma nova canção, e meu coração agora bate num compasso diferente também. Enquanto para alguns o carnaval é época de ilibada diversão para mim é tempo de profunda reflexão. Volto meu olhar para o meu passado, e com uma sensação de decisão repudio muito do que ali vivi, proclamando em alto e bom tom que não repetirei os mesmos erros de antes. Consternado eu me viro para o meu eu de um ano atrás, irrecuperavelmente apaixonado numa situação autodestrutiva que me levou ao limite da saúde mental. Não posso sequer me lembrar disso sem sentir o gosto de sangue em minha boca, me lembrando o quão perto da morte estive.
A canção que agora ecoa em meu coração é incerta. É um misto de suspense, algo misterioso, como o os desdobramentos do futuro. Também é algo jocoso, algo libertador, que me faz até mesmo ignorar o não saber do amanhã, aproveitando bem o hoje. Gosto da sensação e, embora meu corpo ainda apresente algumas linhas finas das cicatrizes que um dia estiveram abertas e escarlates, aos poucos sinto-me recobrar a vida que me foi tirada de mim, aquela que entreguei de bom ao meu próprio algoz, que se riu de mim enquanto eu cavava minha própria cova.
Mas a música mudou. E agora acompanhado pelas cordas do violão eu canto não mais a tristeza de agora, mas sim uma tristeza que se foi, cujas marcas eu apenas recordo, mas que já não doem mais tanto quanto antes. A chuva não traz mais a melancolia inveterada, mas sim um aconchegante descanso. Tudo mudou, agora é azul em meu coração. E então canta o meu coração, tão feliz nessa manhã de um novo e desconhecido amor...
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