segunda-feira, 4 de março de 2019

Manhã de carnaval

Manhã, tão bonita manhã de carnaval... Na verdade já estamos no final da tarde, mas ainda me encontro de pijama, com os olhos desacostumados com a luz, como se ainda fosse manhã. Os compassos esparsos do Dexter Gordon me fazem permanecer sonolento. O dia foi basicamente uma grande soneca, da cama para o sofá e do sofá para a cama. 

Na vida uma nova canção, e meu coração agora bate num compasso diferente também. Enquanto para alguns o carnaval é época de ilibada diversão para mim é tempo de profunda reflexão. Volto meu olhar para o meu passado, e com uma sensação de decisão repudio muito do que ali vivi, proclamando em alto e bom tom que não repetirei os mesmos erros de antes. Consternado eu me viro para o meu eu de um ano atrás, irrecuperavelmente apaixonado numa situação autodestrutiva que me levou ao limite da saúde mental. Não posso sequer me lembrar disso sem sentir o gosto de sangue em minha boca, me lembrando o quão perto da morte estive. 

A canção que agora ecoa em meu coração é incerta. É um misto de suspense, algo misterioso, como o os desdobramentos do futuro. Também é algo jocoso, algo libertador, que me faz até mesmo ignorar o não saber do amanhã, aproveitando bem o hoje. Gosto da sensação e, embora meu corpo ainda apresente algumas linhas finas das cicatrizes que um dia estiveram abertas e escarlates, aos poucos sinto-me recobrar a vida que me foi tirada de mim, aquela que entreguei de bom ao meu próprio algoz, que se riu de mim enquanto eu cavava minha própria cova.

Mas a música mudou. E agora acompanhado pelas cordas do violão eu canto não mais a tristeza de agora, mas sim uma tristeza que se foi, cujas marcas eu apenas recordo, mas que já não doem mais tanto quanto antes. A chuva não traz mais a melancolia inveterada, mas sim um aconchegante descanso. Tudo mudou, agora é azul em meu coração. E então canta o meu coração, tão feliz nessa manhã de um novo e desconhecido amor...

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