terça-feira, 19 de novembro de 2019

A espera

Um caráter melancólico tomou conta do meu ser. O cinza do céu nublado é muito mais triste em meu coração. Há um abismo no meu peito, e eu não sei onde está minha essência. Sinto como se caísse das nuvens, como se me afogasse num gigantesco oceano que me leva de um lado para o outro com suas ondas impetuosas. O esperar pela morte é a única saída. 

Parece que sempre há algo que me deixa para baixo. Um sentimento de vazio que me consome de dentro para fora. Corroendo, pouco a pouco... A mente silencia, o coração pulsa em vivas ânsias de um amor não correspondido, por um amado que se fora e me deixara com gemido. O corpo pesa como se estivesse amarrado a grandes jugos de aço. Uma espada parece transpassar meu ser com sua lâmina incandescente, cortando toda alegria como se não fosse nada. 

Sinto uma grande perda, mas o que eu perdi? Perdi a capacidade de ver o mundo e suas cores, agora é tudo cinza, escuro e frio. Não consigo esquecer o passado, o futuro é uma névoa de sangue que me sufoca e envenena. Meu passado são as feridas de meus joelhos e de minhas mãos cheias de calor por tentar segurar uma grande corrente que ainda me mantém vivo. 

Em minha cabeça toca a grande Sinfonia do Juízo Final. As trombetas convocando os seres vivos diante do grande trono, um adágio lamentoso entoado por aqueles que imploram por clemência. Vislumbro esta escatologia do silêncio de meu quarto, onde as paredes brancas se tingem da mesma melancolia de meu peito. Uma porta que nunca se abre, as janelas que não deixam a luz entrar e um teto não familiar. No espelho um reflexo cansado que não desaparece nem com mil noites de sono. 

Me recordo das luzes que um dia vi no céu estrelado. A aurora boreal, uma chuva de meteoros, a luz da lua brilhando entre as miríades de estrelas... Tudo no passado. O céu agora é apenas uma imensa massa disforme que se estende sobre nossas cabeças. 

Um caráter melancólico tomou conta do meu ser. O cinza do céu nublado é muito mais triste em meu coração. Há um abismo no meu peito, e eu não sei onde está minha essência. Perdeu-se há muito num lugar que não me recordo. Ando sem rumo, com os pés descalços neste chão frio, cheio de cacos de vidro, olhando para o céu, tentando encontrar algo que possa me guiar, algo que possa me ajudar a encontrar a direção daquilo que possa preencher o meu vazio. Sinto como se caísse das nuvens, como se me afogasse num gigantesco oceano que me leva de um lado para o outro com suas ondas impetuosas. Aqui não há esperança, apenas o desespero das águas geladas que enrijecem o osso até o tutano. Não há luz do sol. O esperar pela morte é a única saída. 

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