sábado, 16 de novembro de 2019

Companheira

Ostentando uma estranha sensação de solidão. Não é bem aquela sensação do sentir-se só em meio a multidão, não, mas é também um sentir-se excluído dessa mesma multidão. 

Sinto, com uma profundidade tremenda, que este já não é mais o meu lugar. Sinto que aqueles que me rodeiam já não precisam mais de mim e nem sequer anseiam pela minha companhia. Virei objeto de asco e zombaria para aqueles que amo. Sinto os olhares frios por sobre mim, me dizendo que deveria ir embora, que não sou mais bem vindo aqui. 

É horrível pois, aqui ainda era o único lugar em que me sentia em casa e, agora, já não suporto sequer olhar nos olhos daqueles que me cercam e que sorriem comigo. Mais uma vez o destino brinca comigo, dando-me uma ilusão de que poderia encontrar aqui a razão da minha existência para, logo em seguida, tirar-me tudo. 

Sinto que não devo nunca conhecer o que é o amor. Sinto que nunca vou entender o que é amar e ser amado da mesma forma como entendo o que é ser abandonado. E mesmo agora, desejando o amor daqueles que já foram e me deixaram, não consigo sentir o amor daqueles que ainda me amam. É como não houvesse amor algum. Tudo me foi tirado, até a capacidade de sentir-me amado. 

Será que alguma constelação lá do céu me protege, como a um cavaleiro solitário que trava uma batalha particular dentro do próprio coração contra tudo e todos que conhece? Alguma estrela poderia me emprestar a força necessária para explodir o meu cosmo e sentir o universo, ao invés desse absoluto vazio que habita meu peito?

Não quero, no entanto, cantar o mesmo adágio novamente. Muito já foi dito sobre a solidão, na maior parte das vezes movido pela própria força desse sentimento horroroso. O abandono já foi palco de meus monólogos intermináveis por muitas vezes. Já não tenho mais vontade de cantar a tristeza, assim como não tenho mais vontade de encarar a luz do sol. Sequer tenho vontade de encarar a luz do sol, pois a sombra fresca e solitária das árvores tem sido mais agradáveis. A solidão é, no fim das contas, nossa única companheira inseparável.

E nela que deito minha cabeça quando não há mais ninguém para em encostar a chorar, é a solidão que canta até que durma nas noites em que a desilusão me abraçou com seus tentáculos gelados. Talvez a solidão seja o único presente que ganhei do destino, que gosta de rir-se de minhas desgraças cada vez que me deixa ver a luz somente para me jogar novamente no abismo mais escuro da existência. 

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