terça-feira, 26 de novembro de 2019

Da Insensatez


"[...] todos viemos ao mundo cheios de pretensões de felicidade e prazer e conservamos a insensata esperança de fazê-las valer, até o momento em que o destino nos aferra bruscamente e nos mostra que nada é nosso, mas tudo é dele, uma vez que ele detém um direito incontestável não apenas sobre nossas posses e nossos ganhos, mas também sobre nossos braços e pernas, nossos olhos e nossos ouvidos, e até mesmo sobre nosso nariz o centro do rosto."
Arthur Schopenhauer

Insensatez, querer compreender esse mundo hostil que nos cerca. Insensatez pensar que nós, seres fracos, cuja vida mais longa não dura mais do que algumas décadas terminando na completa senilidade e decrepitude, nós, incapazes de nos entendermos, podemos fazer alguma coisa de grande valor. 

Quando essa era passar, nada do homem restará para o universo, seremos esquecidos como poeira ao vento. Quantos séculos durarão nossas construções? Por acaso nossa filosofia existirá quando tudo for destruído pelo tempo? 

Os homens são brinquedos nas mãos de uma criança chamada destino, que nos molda a sua vontade e nos abandona à revelia. Nada dominamos. Antes disso, somos dominados sem que sequer percebamos. O pouco livre arbítrio que nos resta é usado com a malícia que habita a profundidade obscura de nossos corações, lançando para fora aquela bestialidade que ousamos dizer que nos diferencia dos outros animais. 

Esperança é a maior ilusão que pode haver nessa vida, talvez até mesmo maior que o amor. 

O outro me entenderá, 
o outro me amará, 
o outro me fará feliz, 
eu conhecerei a felicidade
gozarei do amor

A esperança pode fazer-nos ver o amor, felicidade, onde na verdade não há. Trata-se, talvez, da mesma coisa, usando capas diferentes para nos enganar. São as mil faces do mesmo destino que, vestindo desta ou daquela maneira, torna a querer nos torturar para seu simplório deleite num teatro cósmico de proporções existenciais. 

As destruições que experimentamos nada mais é do que a demonstração de seu poder infinitamente superior. Se nós nada controlamos e nada dominamos, o destino nada deixa escapar, e até a menor centelha de esperança é por ele extinta numa tempestade impetuosa e destruidora. E quanto a nós, nada entendemos. 

Apenas andamos em círculos, como macacos, na palma da mão do destino.

E quanto a mim, eu só queria que as músicas que me tocam tocassem os outros também. Só queria compreensão. Mas ninguém parece ouvir, ninguém parece se importar. É como se a música existisse só na minha cabeça. É como se o mundo existisse só no meu coração. E, os outros, bem, os outros são o cataclismo que ameaça destruir toda a existência. 

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