segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Sobre saber

O Sol nasce e, ao fim do dia, põe-se do outro lado do céu. Descansa para dar lugar a lua. Parece uma coisa simples, todos os dias vivenciamos com uma normalidade absoluta. Assim nos parece. Dias nascem, dias findam, chuvas caem do alto, estrelas brilham... Mas, muitas das coisas que acontecem nos céus ainda nos são desconhecidas. Não conhecemos a imensidão do cosmos e podem, devem, existir muitas coisas que ainda não conhecemos. Não sabemos de nada!

Não entendo sequer as coisas que acontecem aqui, ao meu redor. Parece que eu não sei mais nada. E me sinto ainda mais perdido quando olho para o céu cinza e que se estende sem fim sobre a minha cabeça. A imensidão esmagadora me traz consciência de minha pequenez. E que conhecimento poderia tornar-me menos ínfimo diante da imensidão?  Eu não sei de nada.

A verdade é que eu não sei mais nada! Principalmente, nada de você... Me sinto perdido quando penso em você, mas também me sinto perdido quando penso em mim. Não sei como me sentir perto de você. Sinto que quero conversar com você o tempo todo, e tocar sua mão enquanto estamos em silêncio, sinto que poderia olhar seu sorriso por horas sem nunca enjoar... Sinto que poderia ficar sentado contigo num corredor conversando sobre qualquer coisa, 

Mas sinto que algo em você deseja me aprisionar. Ou talvez seja algo em mim. Há um altar querendo ser preenchido, um coração vazio buscando alguém a quem amar. O que é isso? Tenho medo de sentimentos que crescem sem que eu entenda direito o que são. Tenho medo de você, do seu olhar que tanto muda. Tenho medo do seu sorriso, tenho medo de tudo o que pode desaparecer. Tenho medo de sorrir enquanto converso com você, tenho medo de lembrar de você quando vejo alguma coisa durante o dia. Tenho medo pois não sei onde isso me levará e são muitas incertezas para eu saber de alguma coisa com segurança. Tenho medo pois não sei nem mesmo se a luz do sol vai brilhar amanhã. Não sei que sentimento é esse e não sei se ele pode me destruir como antes. Eu não sei mais nada. 

Das coisas que sei, e que sei que sei, são pequenas impressões que me dão a ideia de verdade. Eu sou eu, aquela fera que gritou eu no coração do mundo. Mas esse eu é tão complexo que não sei o conheço, apenas arranhei a superfície de minha consciência, eu não sei nem mesmo o quanto sei de mim. O quanto ainda há para conhecer? Diariamente me dou com reações que não sabia que era capaz de ter, diariamente me surpreendo com novas percepções que não sabia que tinha. Eu não sei mais nada.

Não sei nem mesmo se sou mesmo daqui. Não me sinto daqui. Acho que nasci no lugar e no tempo errado. Minhas ideias são retrógradas para alguns, progressistas demais para outros e eu, no entanto, não me encaixo em nenhuma delas. Não faço parte de nada. Até mesmo meus amigos mais chegados me deixaram por não compartilharmos das mesmas aspirações. 

Não saber nada e saber que não sei de nada é um passo importante para descobrir alguma coisa. Percebo, um pouco, a importância da minha fase atual. Percebo o quanto é importante aproveitar minha própria companhia, fazer as coisas que amo pois, no fim de tudo, uma das minhas poucas certezas é e que eu sempre estarei comigo nos momentos difíceis, e a minha solidão é minha única companheira inseparável. 

Gosto de ouvir minhas músicas sozinho, ver as minhas peças, ir a orquestra, ler alguns livros ou ficar deitado olhando o céu ou o teto e sentindo a terra embaixo de mim. Tenho preferido isso a sair e beber. Claro, tem o agravante de não me convidarem mais, mas também prefiro beber sozinho e sob controle. Ficar sozinho me fez perceber o quanto pode ser agradável estar só, muito embora ainda deteste me sentir só. Mas, é irônico, me sinto menos só agora que fui abandonado do que antes, rodeado de pessoas. Se amizade é querer as mesmas coisas e rejeitar as mesmas coisas acho que, por um tempo, preciso aproveitar minha própria companhia, já que não posso gostar e não gostar das mesmas coisas ao mesmo tempo e sob os mesmos aspectos. 

Estar com os outros é expor-se, ficar vulnerável, e isto é uma coisa que não quero para mim agora. Não quero ter de lidar com pensamentos fechados, olhares frios e risadas maldosas. Prefiro a simplicidade estática da minha própria metamorfose. Não quero me explicar várias e várias vezes, e continuar sendo incompreendido. Não quero agir como se as coisas que mais odeio fossem as mais dignas de honras, não, são desprezíveis e assim deveriam ser aos olhos de todos com o mínimo de bom senso. 

As pessoas são essas máquinas de incompreensão, dotadas de uma capacidade incrível de nunca entender nada ou de uma má vontade absoluta em entender a razoabilidade da realidade. Fechadas demais em si mesmo. Talvez eu devesse fazer o mesmo então, fechar-me em mim e em minhas poucas convicções e buscar por mim a verdade. Não posso contar que o outro a busque comigo, a esmagadora maioria das pessoas que conheço detestam a verdade e o conhecimento verdadeiro. Preferem as mentiras estatísticas, as científicas e as que despertam arrepios e delírios psicóticos coletivos. Eu prefiro a verdade incômoda que me destrói as esperanças vazias e ilusórias. 

Mas, apesar de todas essas verdades que conheço pela metade, ainda há uma quantidade inabarcável de coisas que não entendo nem mesmo dentro de mim, tanto mais nos outros que me cercam. Isso me constrange. Vejo as mentiras que guiam as vidas de muitos. Eles parecem voar, flutuar em meio as nuvens, e eu não sei flutuar, eu sempre caio do ar. A verdade é que eu não sei mais nada mas, ainda assim, sei que quero algo maior que a mediocridade em que fui mantido durante muito tempo! 

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