sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Entre o sol e o inferno

Parece que o tempo finalmente realmente resolveu firmar, e escolheu a temperatura amena entre o Sol e o Inferno, deixando a gente com essa sensação de estar constantemente nadando no sovaco de um pedreiro, com marca de pizza e embaixo do braço e uma impaciência crescente, que só não se transmuta em vandalismo consumado porque pobre não pode fazer vandalismo com as próprias posses, senão que se contenta com uma ânsia e uma convalescença leve e demente em se imaginar fazendo xixi no túmulo das inimigas. 

Francamente me vejo incomodado, menos com o calor do que com a família com a qual sou obrigado a conviver e que, no caso a minha família, constantemente faz apostas clandestinas pra ver quem vai me irritar primeiro: minha irmã com sua cresce falta de caráter e bom senso, trazendo os piores tipos (sub-)humanos pra dentro de casa e descaso indolente dos meus pais que não têm pulso firme pra lidar com essa marginal e enviá-la pra qualquer lugar longe da gente pra enfim atingirmos a paz. Lamentável. 

Infelizmente desempregado num país onde os professores não só são massa de manobra revolucionária quanto desvalorizados e culpados por todos os problemas do mundo. Também não encontrei um homem bem sucedido que queira me sustentar em troca de companheirismo, e sexo de manhã, tarde e noite. Ganhar todas não dá mas perder todas não só é possível como bastante provável. Pelo menos o alisamento do meu cabelo deu certo, deve ser algum tipo de esmola do universo pra que eu não possa dizer que TUDO sempre dá errado, ah não, se eu disser isso vou ganhar de brinde um câncer no fígado por seu ingrato. Perdão oh universo maravilhoso!

Pelo menos agora já sinto passar o efeito da ressaca de vinho barato da noite passada. Quanto mais doce mais a gente se empolga, e quanto mais a gente se empolga mais o álcool faz o papel de sentar na mesinha do escritório mental e acessar os arquivos dos vacilos passados, enumerando-os em ordem alfabética e declamando em voz alta, fazendo a gente se sentir uma porcaria que não presta pra nada (não tanto quanto a minha irmã mas ainda assim uma porcaria), sentada ao lado da última pessoa que fez você se iludir e acreditar que o amor poderia trazer alguma felicidade a essa vida fútil. Que fofo!

Acho que estou sendo um pouco frankfurtiano demais, trazendo a crítica ostensiva a tudo que existe para a minha vida. Não, eu deveria enumerar as coisas boas também, mas talvez num próximo post (que não vou escrever), aqui eu só vou reclamar mesmo, e aliás, se achou ruim pode reclamar nos comentários também, já que eu só estou escrevendo pra esperar o Rivotril fazer efeito e eu esquecer dessa sexta medíocre em que sou assomado por pensamentos não só suicidas mas homicidas e de perspectivas de um futuro tão pessimista que fariam as distopias de Aldous Husxley e Suzanne Collins parecerem verdadeiras utopias, um céu na terra. 

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