quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Menos

Eu estou quase sempre com o o celular em mãos, pulando de uma rede social para outra e, quase toda hora, dou de cara com algum artista asiático, seja um ator de BLs tailandês, famoso pelo fanservice e propagandas de vitaminas para a pele, ou o idol coreano que arrebanha multidões de garotas apaixonadas... Todos eles têm algo em comum: fazem parte de um seleto grupo que possui um padrão de beleza praticamente inalcançável para alguém como eu. 

Todos tem a pele clara e sem manchas, os olhos bonitos, o cabelo bem cuidado, sempre liso, caindo numa bela franja sob um rosto harmônico, um sorriso fofo, uma expressão séria sedutora. São, na minha opinião, o que há de mais perfeito na beleza masculina de todo o mundo. Não consigo imaginar quem possa ser mais bonito do que um Tay Tawan, um Gulf Kanawut, um Jungkook ou um Eiji Akaso. Mas todos são, como disse, membros de um seleto grupo, um panteão de homens cuja beleza servem de inspiração para tantos mas que, quando visto sob o prisma de alguém que se encontra no lado diametralmente oposto ao deles, só serve para detonar o que resta de uma autoestisma já bastante combalida para conseguir reerguer-se após mais essa derrota. 

Como não olhar para um First, Kanaphan ou Chalongrat, e não sentir-se rebaixado, ao mesmo tempo em que deseja aqueles traços finos, delicados e belos? Como não sonhar com esses anjos de perfeição, enquanto se olha no espelho e vê algo como um animal que não saiu completamente da selvageria de seus próprios pelos, que ainda vive na própria pele imunda a emitir grunhidos e latidos como uma fera? E a coisa piora ainda mais quando vejo que nem mesmo os mesmos adereços e artifícios que eles usam servem para me ajudar. A maquiagem não cai da mesma forma, as roupas não funcionam para emoldurar a beleza, os óculos, as cores, o penteado, tudo o que neles realça e destaca ainda mais algum aspecto já bonito de seus seres, em mim serve apenas para macaquear e fazer parecer com um palhaço. 

Um outro traço característico dos asiáticos é a versatilidade da imagem. Homens feitos usam uniformes de colegial e se passam como estudantes do ensino médio sem nenhuma dificuldade. Se numa foto dá pra parecer com um bebê fofo, num comercial de produtos pra pele ou algo do tipo, na outra a sensualidade é aflorada com apenas o abrir de alguns botões da camisa ou com um iluminador corporal e um olhar profundo. Quando tento fazer algo do tipo o resultado não é nada mais do que patético. 

E é cada vez mais frustrante, perceber que não há nada em mim que me agrade ao olhar. Os defensores da beleza interior defendem que isso não é importante, que há uma série de qualidade interiores maiores e mais bonitas, ou que a própria definição de belo é relativa demais para apenas os asiáticos serem realmente bonitos. Mas a verdade é que ninguém acredita nisso. Eu, pelo menos, não vejo nisso mais do que um consolo patético ao fato de que, perto deles, qualquer um deve se sentir menos do que um nada. Não há como comparar um corpo atlético ou um rosto perfeito com o meu, a comparação simplesmente não é possível pois se tratam de coisas tão distintas entre si que são separadas não por um continente, mas um universo inteiro, entre o homem e o animal que se veste de homem, entre a besta de cara peluda e nobre príncipe. 

A autoestima cada vez se destrói mais, se reduz, pouco a pouco, em cada sorriso, em cada foto, em cada curtida, e se perde na tela que se escurece, nas lágrimas que se derramam no travesseiro, nas mensagens que não chegam, nos sentimentos que não são correspondidos. Aos poucos vira cinza, a cinza fria que se perde no vento, que só pode acariciar as pétalas da bela flor, antes de se dissipar de uma vez por todas no céu de um mundo de deuses e príncipes, onde as bestas foram erradicadas, exiladas nos pântanos e nas florestas profundas, longe da luz do sol, para que ninguém veja tal coisa grotesca. 

2 comentários:

  1. Uau, uau! Texto profundo e ao mesmo tempo doloroso! Não sei se você concorda mesmo com tudo isso que escreveu ou é apenas um texto com alguns pensamentos soltos ... Mas olhando sua foto aqui do blog só tenho a dizer que feio você não é, e sim nunca vamos ser iguais a esses modelos perfeitos e cheios kgs de make kkkkk... Mas saiba que você pode descobrir acessórios e looks que ajudem a realçar sua beleza! Beijinhos!!!! Larissa Mascarenhas

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    1. Oiie, é uma relação complicada com esses pensamentos, em que ao mesmo tempo em que acredito em cada palavra eu nego e procuro seu contrário. É uma tensão que marca bem a nossa existência, uma existência de elementos antagonistas que subsistem em cada um de nós... Kkkk Ops, desculpa, e obrigadinho :3 :3

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