quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Fim de Ano e Alquimia

"A Alquimia é uma ciência de compreensão, decomposição e recomposição da matéria, contudo, não é uma prática onipotente, pois não se pode criar uma coisa do nada. Para se obter algo é preciso oferecer em troca uma coisa de valor equivalente, esse é o princípio da Alquimia: a Lei da Troca Equivalente!" (Hiromu Arakawa)

Eu andei pensando durante todo este dia em algo que me ajudasse a definir o que foi esse ano, um símbolo, uma matriz de intelecções que refletisse de algum modo o completo caos que se deu dentro de mim nos últimos doze meses. Não é como se fizesse uma retrospectiva, aliás esse é um ano que eu prefiro esquecer, mas algo como um exame de consciência, uma revisitação a certos pontos que, esses sim, valem a pena manter gravados no meu ser. 

Mas, enquanto pensava, a única palavra que me veio a mente foi AMOR. Sim, clichê e melancólico, mas convenhamos, que mais alguém como eu poderia pensar se, apesar de todos os apesares desse ano, esse Amor foi o responsável por me manter vivo, dia após dia, mesmo quando tudo me dizia que seria melhor não estar vivo? 

Foi esse Amor, que aqui escrevo com A maiúsculo porque ele não é um sentimento, mas uma pessoa, melhor ainda: pessoas, mesmo que se colocou ao meu lado, trazendo um pouco de luz, o necessário, para crescer e continuar cada dia, que me abriu os olhos. Me mostrou os amigos que ficaram ao meu lado quando tudo se desmoronava. Quantas risadas, quantas músicas cantadas no improviso no meu quarto ou no quintal, quantas garrafas de coquetel, quantos filmes, quantas noites de reflexão... Se não fosse por essas coisas esse ano seria apenas cinza e frio mas, pelo contrário, todas as dificuldades não diminuíram as cores daqueles que me cercavam, mesmo quando tudo o mais continuava cinza.

A minha melhor amiga veio morar aqui em casa, os meus outros amigos, embora em número bem reduzido se comparado ao batalhão que vinha aqui antes, se fizeram tão presentes que eu sequer senti a falta dos outros que se foram. E eu não sinto nada de ruim pelos que se foram, antes disso, sou grato a cada um deles por tudo o que fizeram por mim, inclusive quando me deixaram, me mostrando que eu deveria caminhar sozinho, com minhas próprias pernas, isso é também um ensinamento de grande valor pelo qual serei eternamente grato, tendo o nome de cada um escrito em meu coração! Mas, voltando a esse ano, nós ficamos juntos, todos passamos por dificuldades juntos. Problemas com relacionamento, pais, emprego, e até mesmo a pandemia em si. Mas nós conseguimos sobreviver, nem tão inteiros e muitos menos intactos, é verdade, mas sobrevivemos e, o mais importante: juntos!

Maria e Cadu, os dois vulcões constantemente em erupção, implacáveis numa combinação de companheirismo e sinceridade brutal foram os responsáveis por me trazer de volta ao realismo muitas vezes perdido por entre a névoa dos devaneios, quando sonhar sozinho parecia mais agradável do que lutar. Ambos num ímpeto de querer o movimento, de querer mudar as coisas, seja numa noite de filme e massas ou numa tarde de bebidas e músicas. É o elemento mutável da minha alquimia, o enxofre, a constante transformação. E eu amo vocês!

José, como dizer sem soar piegas? Como não amar a gentileza, a delicadeza, o altruísmo? Como não amar? Ele tem um poder que eu nem sei se ele já percebeu, mas é capaz de curar um coração partido e as dores mais horríveis com um abraço, com um sorriso ou até com uma piada besta. Mesmo escondendo por trás do sorriso as dores que ele sente o seu sorriso não é falso, antes disso, é justo o sorriso que mostra aos outros que eles devem continuar lutando, persistindo. Ele é o elemento fixador do meu círculo de transmutação, o mercúrio, o que no meio do caos oferece um porto seguro, um lugar firme, um peito florido entre os amplexos do amado. Uma de minhas músicas favoritas desse ano (My Oxygen, do Supanut) fala sobre uma pessoa que trouxe amor e calor a uma pessoa que já havia perdido as esperanças e a capacidade de ver a vida como algo diferente de um grande vazio, e foi exatamente isso que ele fez por mim, se tornando tão vital, tão necessário quanto o oxigênio que eu respiro. E eu amo você, mais do que seria capaz de expressar!

Max é o ar, imprevisível, que sopra como brisa ou como vendaval, é aquele que vem e vai mas, mesmo à distância não perde seu significado e nem sua força. Se a brisa não toca o meu cabelo aqui eu tenho certeza que um furacão está em algum outro lugar. Ele soube, mesmo sem saber, quando ficar em silêncio ao meu lado e quando me agitar, quando me despertar se necessário. E eu amo você coisinha!

Por fim, a surpresa: quem diria que um aluno se tornaria um de meus melhores amigos? Igor e eu conversamos praticamente todos os dias desse ano, passando da relação profissional para a de uma amizade sincera que compartilha momentos felizes e tristes, que ficou muitas e muitas noites até quase o dia clarear conversando sobre sabe-se lá o quê. Uma amizade à distância, é verdade, mas que não perdeu seu encanto. Dela nasceu um sentimento verdadeiro, um carinho que não poderia expressar de outra forma senão num abraço apertado. Só espero que possamos mudar isso e nos fazer presentes também lado a lado, sem figuras de linguagem, um do outro. E eu te amo nego. 

E esses elementos, unidos uns aos outros pelas linhas que permitem a sua reação, são capazes de dar origens à novas coisas, o resultado do processo alquímico. Como dizem as palavras sagradas de que quem encontrou um amigo encontrou um tesouro, eu achei o meu, ou pelo menos parte dele. Quando pensamos em tesouro pensamos em pedras preciosas mas, na alquimia, o sal representa o cristal, o elemento final, resultado dos processos de compreensão, decomposição e recomposição, aquilo que resulta do mutável e do imutável. Me vejo carregando comigo um punhado de sal, representando esses cristais que brilharam e iluminaram a minha vida durante esse ano tenebroso que, ao lado deles, se tornou até leve e suportável.

Quantas vezes fugimos do medo e da solidão em nossas noites de filmes improvisadas de qualquer jeito na minha sala apertada? Quantas vezes saímos de carro praticamente sem rumo procurando alguma coisa pra fazer só para não encarar algo que era grande demais em casa ou até mesmo dentro de nós? Isso só foi possível porque entregamos os nossos corações e, em troca, recebemos os corações daqueles que amamos, essa foi a nossa troca equivalente, capaz de abrir a Porta da Verdade. 

Isso é o que tenho a dizer, apenas: Obrigado! Pelo carinho, pelo apoio, pelo Amor, que nos uniu e nos une, Amor que permitiu que ficássemos juntos e vivos, nos vários sentidos da palavra vivo, mesmo com tantas adversidades e desilusões. Obrigado por serem a minha luz!

"Em noite tão ditosa, e num segredo em que ninguém me via, nem eu olhava coisa sem outra luz nem guia, além da que no coração me ardia. Essa luz me guiava, com mais clareza que a do meio dia, aonde me esperava quem eu bem conhecia em sítio onde ninguém aparecia." (S. João da Cruz)

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